Amor e Sexo

Cancro e sexo: Conheça o impacto na vida sexual de quem passa pela doença

4 Fevereiro, 2020

Apesar da doença oncológica ameaçar a forma como o doente se vê a si próprio, bem como a relação com o parceiro, isso não significa que a intimidade do casal tenha de ficar definitivamente comprometida.

Se a palavra cancro ainda causa muitas angústias, a sexualidade de quem é portador de algum tipo de neoplasia, mais ainda. No dia Mundial do Cancro, 4 de fevereiro, quisemos perceber em que medida a doença afeta o ‘amor’ na cama. Na verdade, as patologias graves como a oncológica, trazem com ela o sofrimento, quer físico quer psicológico, e conferem à pessoa o estatuto de doente, privando- a de se sentir como um ser sexual, desejável.

Numa primeira fase, como nos explica a psicóloga Eloísa Fernandes, “a sexualidade aquando do diagnóstico de uma pessoa com cancro, transforma-se quase como um não evento. Nesse momento, a principal preocupação e objetivo é a luta pela sobrevivência. Quase que não existe espaço para pensar nesse tipo de relação”.

Mas é após o processo de tratamentos, que a sexualidade poderá ser afetada por diversos fatores que a própria doença oncológica acarreta. “Desde logo, pelos efeitos secundários irreversíveis que ela apresenta, o que faz com que o casal não consiga adaptar a sua intimidade à realidade atual” como menciona a especialista.

Neste sentido, acrescenta que “muitas vezes o casal não tem a capacidade de reinventar-se. Dou como exemplo o caso de mutilações em que as próprias mulheres que tiveram cancro de mama e foram sujeitas a uma mastectomia não conseguem lidar com a sua imagem corporal, e as problemáticas originadas com a sexualidade são mais suscetíveis de surgirem”.

Mulheres são mais resistentes

Mas será que homens e mulheres lidam de forma igual com a doença? Para Eloísa Fernandes, “o tipo de patologia irá influenciar logo à partida a reação que cada um dos sexos têm perante a doença que enfrentam.

No caso das mulheres, com o cancro da mama, ou nos homens, o cancro da próstata, irá provocar por si só reações distintas, pois esse é um fator que está relacionado com as diferentes formas de reagir a nível de género. Aqui, existe uma semelhança: se a mulher sente a sua feminilidade afetada, o homem também não deixará de sentir a sua masculinidade prejudicada”.

A psicóloga realça ainda, que no caso delas, “as repercussões também se sentem ao nível da imagem corporal e no modo como se apresentam à sociedade”. No entanto, e sem querer fazer grandes distinções de género, a psicóloga opta por realçar a existência de dois tipos de atitude perante o cancro:

“Existem pessoas que encaram a doença como algo de positivo e aproveitam essa situação para se fortalecerem. Por outro lado, as que acham que a partir dali, a vida nunca mais vai ser a mesma e não vão conseguir recuperar. Por isso, no que concerne às diferenças de género, não me parece que isso seja assim tão decisivo, muito embora as mulheres, por norma, sejam um pouco mais resistentes. Já os homens são mais dependentes das senhoras a nível de cuidados.”

Impacto na vida sexual

O cancro, sendo uma doença crónica, necessita de adaptações, e mesmo que a capacidade sexual não seja diretamente afetada, existe uma dimensão psicológica que a afeta, como o medo, a ansiedade, a insegurança e a depressão. O doente oncológico passa por processos de alteração da imagem, dificuldades no relacionamento sexual, alterações na sua confiança, dificuldades de interação, perda da identidade sexual, diminuição da autoestima.

Leia ainda: Ter várias parceiras sexuais reduz o risco de cancro

Texto: Revista Maria; Fotos: iStock

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