Amor e Sexo

Incontinência urinária: Quando a vida sexual é traída por uma gota

19 Setembro, 2020

Este é um problema que afeta 20% da população acima dos 40 anos. No entanto, ainda são muitos os casais que continuam a fazer deste assunto tabu e não procuram ajuda especializada. A boa notícia: Há tratamento!

A incontinência urinária tem maior incidência no sexo feminino, afetando três mulheres para cada homem após os 45 anos. Por este problema «entende-se a incapacidade em controlar o armazenamento e a saída de urina», começa por explicar Miguel Cabrita, coordenador da unidade de urologia do Hospital Lusíadas Albufeira e da Clínica Lusíadas Faro, adiantando que «a idade, a obesidade, a gravidez e o parto, as cirurgias pélvicas», assim como «a radioterapia» são as principais causas de um problema que, em Portugal, afeta 20% da população acima dos 40 anos. Além do impacto social e profissional, uma das consequências menos faladas da incontinência urinária são as alterações que provoca nos hábitos sexuais das pessoas afetadas.

Vergonha: um fator de inibição

Para quem sofre de problemas de controlo da bexiga, é natural que a atividade sexual deixe de ser vivida com o mesmo prazer de outros tempos. Muitos sofrem em silêncio. «Infelizmente, este assunto ainda é tabu não só no sentido das pessoas procurarem ajuda especializada, como entre o próprio casal. Muitas vezes, por vergonha, a pessoa com incontinência urinária começa por evitar momentos de intimidade com o parceiro sem que este compreenda o verdadeiro motivo de tal comportamento», afirma o sexólogo Fernando Mesquita.

Esta situação pode levar a «mal-entendidos e a sentimentos de isolamento e frustração no casal», frisa o especialista, referindo ainda que um terço das mulheres com incontinência urinária referem perda de urina durante a atividade sexual devido aos movimentos decorrentes do ato, principalmente, na «penetração vaginal mais profunda, na fase de excitação e ao atingir o orgasmo.»

Em alguns casos, também segundo Fernando Mesquita, verifica-se alguma dificuldade na atividade sexual devido à dor, às infeções urinárias e à diminuição ou ausência de desejo sexual. «Também é frequente serem verbalizados sentimentos de vergonha, causados pelo medo de perder urina durante a relação sexual ou pela necessidade de interromper a interação sexual, por necessidade ou sensação de necessidade em urinar.» O truque principal é não reduzirem os momentos de intimidade ao coito. “A sexualidade é muito mais do que isso!.”

Problema com solução

Com o avançar da idade, a capacidade da bexiga passa de 500 ou 600 ml para 250 a 300 ml, principalmente nas mulheres pós-menopausa, devido à diminuição da produção de estrogénios, às doenças crónicas ou ao aumento do índice da massa corporal. Após um diagnóstico correto, existem diversos tipos de tratamento para cada caso, «o qual poderá passar por uma simples cirurgia, técnicas de reabilitação do pavimento pélvico, fármacos orais ou administrados diretamente na bexiga, alterações comportamentais e dos hábitos miccionais», afirma o urologista Miguel Cabrita, sublinhando que «a cirurgia tem uma taxa de cura de 90%.»

Hoje em dia, a intervenção cirúrgica é pouco agressiva e realizada em regime de ambulatório, com apenas um dia de internamento. Por tudo isto, não deixe que a sua atividade sexual seja traída por uma “gota”. O importante é deixar a vergonha de lado e procurar ajuda especializada.

Truques a colocar em prática

Segundo o urologista Miguel Cabrita, o fortalecimento muscular do pavimento pélvico constitui um dos aspetos importantes na prevenção. «Um dos exercícios [conhecidos como exercícios de Kegel] preconizados poderá ser a contração/relaxamento da musculatura pélvica por períodos de 10 segundos, 10 vezes seguidas, devendo o mesmo ser realizado três vezes ao dia». O médico alerta ainda para a importância de adotar hábitos de vida saudável, evitando o sedentarismo e a obesidade.

Já Fernando Mesquita refere ainda que para ajudar a evitar a perda de urina, o parceiro com incontinência urinária deve «evitar beber líquidos, pelo menos uma hora antes do sexo, e esvaziar a bexiga antes da relação sexual». Também durante a intimidade devem ser evitadas “posições que pressionem a zona da bexiga” do companheiro com problemas. Em muitos casos, avisa o sexólogo, é necessário o acompanhamento de uma equipa multidisciplinar composta por ginecologistas, urologistas, psicoterapeutas e fisioterapeutas.

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Texto: Carla S. Rodrigues

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