Durante dez anos, João de Sousa lidou diariamente com o mundo do crime… não sendo a realidade que empurra um criminoso para trás das grades, uma novidade para si.
Contudo, ao ter de viver numa cela de apenas 9 m2 percebeu que a imagem que tinha criado, ao longo dos anos, daquele espaço se revelava bem diferente.
O ex-Inspetor da Polícia Judiciária esteve quatro anos, oito meses e 22 dias preso no Estabelecimento Prisional de Évora. Privado de liberdade e do contacto com a família e amigos, João de Sousa refere o que foi mais difícil na separação dos filhos.
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«O meu filho não me identificava como o pai»
Pai de duas meninas, de 16 e 12 anos, e de um menino, de cinco, o também psicólogo não pôde acompanhar parte do crescimento dos três filhos, principalmente do mais novo que nasceu quando João de Sousa já estava preso.
«Na altura, a mãe dos meus filhos estava grávida do último e eu assisti ao parto de todos e naquele não pude estar presente», conta, referindo ter sido «terrível» a separação dos filhos, «como deve ser para qualquer pessoa que tem como referencial e como um dos pilares a família.
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«Oh pai olha aqui»
Para João de Sousa, não poder estar presente e acompanhar os primeiros quatro anos de vida do filho mais novo foi um misto de emoções. Perceber que o João mais pequeno lá de casa não o reconhecia como pai foi «terrível», mas a verdade é que este conseguiu surpreendê-lo, num episódio que o ex-Inspetor da Polícia Judiciária recorda como feliz dentro da prisão.
«Vou-lhe contar um momento alegre que tive na prisão. As irmãs dele estavam sempre, contava-me a mãe, em casa a dizer “vamos ver o pai” e o meu filho não me identificava como o pai. Era um indivíduo que ele ia ver à prisão. Nunca me chamou pai. Até que há um dia em que está distraído na cadeira e nós estamos a conversar e ele diz “oh pai olha aqui”. A primeira vez que o meu filho me chamou pai foi quando me foi visitar à prisão.
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Texto: Marisa Simões
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