Família e Carreira

Abusos sexuais: Os comportamentos e os traumas comuns de uma criança abusada

19 Maio, 2019

Abusos sexuais

Saiba como perceber se uma criança foi ou está a ser abusada sexualmente pelos comportamentos que tem.

A realidade no que toca a crianças e o abuso sexual de que muitas são alvo tem ganho contornos inexplicáveis. Na comunicação social, as notícias que dão conta de uma violação ou de um abuso sexual tornaram-se uma constante.

Segundo as estatísticas realizadas pela Associação Portuguesa de Apoio à Vítima (APAV), entre 2013 e 2017 registaram-se 3 594 vítimas de crimes sexuais, entre as quais 752 crianças. Destas, cerca de 92 por cento são do sexo feminino.

De modo a perceber de que forma um crime sexual influencia a vida, o desenvolvimento e o crescimento de uma criança, falámos com a psicóloga criminal Maria Louro e a criminóloga da APAV, Carla Ferreira. As especialistas explicam quais são os comportamentos mais comuns – que indiciam um abuso sexual ou que indicam que algo se passa – e quais os traumas que influenciarão na construção da personalidade da criança numa idade mais adulta.

«Não é uma coisa que acontece só nas famílias socioeconómicas desfavorecidas nem pessoas que vivem em situações de precariedade económica», começa por referir a criminóloga. «Mais de 60 por cento das situações que são reportadas [à APAV] são de abuso sexual de crianças», acrescenta.

Embora no senso comum se pense que apenas em famílias mais desfavorecidas acontecem crimes deste tipo a verdade está longe de ser essa. Basta que um agressor esteja motivado a cometê-lo que tem início o pesadelo para o(a) menor.

«Há uma tendência para termos mais meninas vítimas do que rapazes», afirma. A razão pode ser justificada com as estatísticas que referem que o número de homens agressores sexuais é maior que o número de mulheres.

«Manifestações de raiva inesperada, pânico e um medo irracional»

O ser humano tem, desde o momento em que nasce até ao que morre, um padrão de comportamento comum. Quando algo não está bem é natural que o comportamento se altere e, no que toca às crianças, é importante perceber alguns sinais.

Alterações fisiológicas

«Podemos falar de alterações fisiológicas, nomeadamente insónias, terrores noturnos, passar a fazer xixi na cama – coisa que não fazia ou que nunca fez – portanto há aqui manifestações comportamentais. Dores de barriga, vomitar, por exemplo», refere a psicóloga.

Alterações psicológicas

«Depois do ponto de vista psicológico a questão da raiva, muitas vezes uma tristeza profunda, o sentimento de estar só. O isolamento em relação aos outros, mesmo na própria escola. Procuram situações em que se sintam mais seguros ou mais protegidos. Ou então miúdos que tinham, aparentemente, um comportamento social adequado passa a ser ele desadequado. Por exemplo, dentro da sala de aula têm manifestações comportamentais desajustadas, como responder mal. Por vezes até do ponto de vista do aproveitamento escolar. Bons alunos que depois deixam de ser bons alunos», diz.

«Embora quando falamos de crianças por vezes seja mais complicado de perceber, o que é certo é que, à partida, não será uma criança alegre. Geralmente são crianças mais recatadas, mais no seu cantinho, muitas com uma tristeza muito presente. Às vezes têm manifestações de raiva inesperada e/ou, em situações em que não era suposto, demonstram pânico e um medo irracional. Com isto não quer dizer que estas alterações não sejam resultado de outro tipo de situação, no entanto quando as mesmas acontecem algo se está a passar», esclarece.

«É na família que eu aprendo a confiar no outro»

«A maior parte dos abusos sexuais são cometidos dentro da família. E quando falamos de família entendemos que é a primeira instância socializadora, aquela com que nós estabelecemos laços. É aqui a questão da vinculação. Muitas vezes estabelecem-se aqui vínculos inseguros, que à partida deviam ser seguros. É na família que eu aprendo a confiar no outro, que eu posso confiar, que a relação com o outro é segura. Ora, se na própria família ou com aqueles que eu deveria poder confiar, é onde acontece o abuso claro que depois um dos traumas é essa desconfiança. E, muitas vezes, são pessoas que precisam de ajuda do ponto de vista psicológico e psiquiátrico. Os traumas muitas vezes são essa desconfiança constante, o não ser capaz de controlar a ansiedade. O abuso até pode ter ocorrido há muito tempo mas o que é certo é que não desaparece da memória. E uma coisa que se verifica nos estudos é que a questão do abuso sexual perdura na memória durante anos ou uma vida inteira», explica.

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