Família e Carreira

Afinal devemos ou não obrigar as crianças a darem beijos aos avós? Eduardo Sá responde.

24 Outubro, 2018

Eduardo Sá aborda o tema falado no Prós e Contras, onde Daniel Cardoso afirmou que obrigar as crianças a beijarem os avós é educa-las para a violência sobre o corpo.

O programa Prós e Contras de dia 17 de outubro gerou bastante polémica e dividiu opiniões. O tema debatido foi o assédio e o convidado Daniel Cardoso fez algumas afirmações que deixaram a apresentadora, Fátima Campos Ferreira, sem palavras.

«Quando a avozinha ou o avozinho vai lá a casa e a criança é obrigada a dar o beijinho à avozinha ou ao avozinho. Estamos a educar para a violência sobre o corpo do outro ou da outra, desde crianças», disse Daniel Cardoso.

Depois de assistir ao programa da RTP e de ouvir a opinião de Daniel, Eduardo Sá não quis deixar de comentar o assunto e dar a sua opinião sobre o tema. Foi através de um texto cheio de ironia que o psicólogo clínico discordou das afirmações do professor universitário.

Compreende-se. A pessoa distrai-se e, vai daí, eles pespegam três e quatro beijos de cada vez

«Eu também acho que devia ser proibido que as crianças sejam obrigadas a darem um beijinho aos avós. Porque os avós são um bocadinho “atrevidos” e nunca se contentam, unicamente, com um beijinho. Uma pessoa distrai-se e, vai daí, eles dão aos três e aos quatro beijos de cada vez. Abraçam uma criança com tanta força que não só a amarrotam como quase a estrafegam.

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E, como se isso não fosse não fosse já de si um abuso a propósito da sua auto-determinação, ainda lhe dizem – alto e em bom som – coisas embaraçosas do género: “meu amor”, “minha riqueza” ou “luz dos meus olhos”. E isso é mau. Porque às crianças deve ser dado o dever de reserva que não tenha de levar os pais a lembrarem-lhes que os avós são uma espécie de “reserva natural” da bondade humana e que tudo o que eles trazem de adocicado à sua vida – regras numa versão de “algodão doce”, mimos sem restrições dietéticas e colo na sua cotação máxima e à margem de quaisquer oscilações dos spreads – são maus hábitos e maus exemplos porque o amor se quer asséptico. Aliás, lembrar aos nossos filhos que beijar os avós é um gesto de gratidão ao que o amor humano tem de mais sagrado torna-se perigoso.» começa por escrever em tom de ironia.

Entretanto, Eduardo Sá continua dizendo que «confundir gestos de bondade com sementes de violência é insensato». O escritor chega mesmo a chamar a estas pessoas de «pouco inteligentes».

«Deixem que vos lembre que aqueles que acham que o beijo dos avós traz às crianças um constrangimento que, mais tarde, as convida para a violência talvez nunca tenham tido avós, como mereciam, e talvez tenham confundido, contra tudo aquilo que mais lhes era devido, reconhecimento com constrangimento.

Por isso mesmo, confundir gestos de bondade com sementes de violência é insensato, imprudente e – desculpem-me! – muito pouco inteligente. Não é, pois, justo que, em nome da democracia, haja quem queira colocar em liberdade condicional tudo o que a Humanidade de mais esclarecidos e de mais sublime nos trouxe.»

«É educar para o reconhecimento»

Antes de terminar, Eduardo deixa bem clara a sua posição sobre este tema que tanto tem dividido opiniões. Para o escritor beijar os avós «é educar para o reconhecimento». As crianças criam esperança no mundo e na bondade humana, mesmo quando há quem os queira afastar das coisas boas e com futuro.

«Portanto, se me permitem, é tempo de não confundirmos condicionamento e medo, com boa educação e com gestos de gratidão para com o amor, por favor. Beijar os avós não é boa educação. Beijar os avós não é, desculpem, educar para a violência sobre o corpo do outro.

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É educar para o reconhecimento que, quando se toca no corpo dos avós, nos faz sentir que, por mais que haja maus ou invejosos que nos queiram afastar da bondade humana, os avós, ao deixarem-nos, em cada beijo, chegar bem mais perto da sua alma, ajudam-nos a perceber que, enquanto houver avós que se insubordinem e que beijem os seus netos, o mundo, apesar de toda a sua insensatez, será um lugar com uma memória. E com futuro.» termina Eduardo Sá.

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