Amor e Sexo

Pessoas que não gostam de sexo. Entenda melhor os assexuais

14 Janeiro, 2023

Pessoas que não gostam de sexo. Entenda melhor os assexuais

Os assexuais provocam estranheza a algumas pessoas por raramente ou nunca sentirem atração sexual por alguém. No entanto, podem ter interesse romântico e intimidade.

Chama-se Assexualidade. Pessoas que não gostam de sexo. É mais comum do que pensa. Os assexuais provocam estranheza a algumas pessoas por raramente ou nunca sentirem atração sexual por alguém. Mas, podem ter interesse romântico e intimidade.

Ana Chaves, de 30 anos, percebeu que o sexo era intrigante para si quando as colegas do liceu começaram a “babar-se” pelos rapazes da escola e ela não entendia o fascínio de quererem levá-los para a cama. Até achava alguns “bonitos e simpáticos”, mas ficava-se por aqui e passava os dias a matutar se teria algum problema.

“Durante algum tempo, achei que a minha ‘apatia’ se devia a um bloqueio psicológico. Desde pequenos que temos contacto com a palavra sexo através de filmes ou publicidade, e somos ensinados que, mais tarde, nos envolveremos sexualmente com alguém”, afirma esta empresária que não quis revelar o seu nome verdadeiro. Depois de saber que estava tudo bem com a sua saúde, apaziguou o coração, mas sempre quis encontrar respostas, que nunca procurou junto de amigos. “Tinha vergonha”, assume.

Foi já anos depois, através das redes sociais, que teve a resposta às suas dúvidas: é assexual. Ou seja, não sente atracão sexual por alguém, independentemente do seu sexo ou género. “A assexualidade é vista como uma orientação sexual. Sendo que estas pessoas apresentam pouca ou nenhuma atração sexual”, afirma o sexólogo Fernando Mesquita. “Isto não quer dizer que os assexuais não sintam atração romântica por outras pessoas, ou que não tenham qualquer tipo de intimidade, por exemplo beijos ou carícias”, adianta.

A sexualidade é variada

Além disso, a própria assexualidade é muito diversificada. “Existem assexuais que não sentem qualquer tipo de atração sexual (assexuais estritos); assexuais que apenas sentem atração sexual após estabelecido um vínculo afetivo com a outra pessoa (de missexuais); assexuais que apenas sentem atração sexual em algumas situações (greyssexuais); assexuais que podem oscilar entre a greyssexualidade e a demissexualidade (assexuais fluidos); entre muitos outros casos”, explica o especialista.

E acrescenta: “O melhor é perguntar à pessoa como ela se identifica, ao invés de pressupor que alguém que se apresenta como assexual não gosta de sexo.”

Com o tempo, Ana acabou por reconhecer-se como assexual estrita e a sua orientação – que não é uma disfunção sexual ou patologia – deixou de ser “invisível”, pois já consegue falar com os mais próximos sobre o assunto, embora saiba que muitos não compreendem, pois é o fim da ideia de que o sexo tem de suscitar interesse a toda a gente.

“A sexualidade pode ser tão variada que há espaço para todo o tipo de condições. No fundo, é aceitar que, tal como há pessoas que não gostam de chocolate, ou de chocolate branco, ou com amêndoas, também há pessoas que gostam muito de sexo, gostam moderadamente de sexo ou, pura e simplesmente, não gostam de sexo”, defende Fernando Mesquita ao mesmo tempo que cala os que julgam que esta é uma forma de celibato. Errado! É o resultado da sua orientação de crenças sobre o seu comportamento. “São dois conceitos diferentes. No celibato existe desejo sexual, mas há uma abstinência sexual deliberada. Na assexualidade não há desejo ou vontade sexual.”

E o que acontece em casal?

No entanto, o facto de estas pessoas não sentirem desejo sexual não quer dizer que não tenham prazer, pois este pode atingir-se de diversas maneiras. “Podem tê-lo através da automasturbação, mas nem todas têm essa necessidade. É o mesmo que acontece com qualquer outra pessoa, independentemente da sua orientação sexual”, esclarece o sexólogo.

E conseguem construir laços e relações de amor? “Claro que sim. Tal como referi, podemos encontrar assexuais românticos (desejam estabelecer uma relação amorosa e afetiva) ou assexuais arromânticos (onde não há necessidade de estabelecer relações amorosas). Depende, essencialmente, das características de cada uma dessas pessoas.” Ou seja, ao contrário do que canta a brasileira Rita Lee, sexo sem amor não é amizade [pode não ser].

No entanto, é legítimo questionar-se como é que um casal lida com isto. “Normalmente, esta questão não é problema se os dois valorizarem mais a parte romântica. A maior dificuldade acontece quando um dos elementos é assexual e o outro valoriza bastante o sexo.

Neste caso, será importante procurarem ajuda de um terapeuta sexual, para que consigam encontrar formas de prazer que sejam satisfatórias para os dois”, afirma Fernando Mesquita, alertando que a pressão que muitas vezes é feita para que “os assexuais se ‘encaixem’ num estereótipo que não é o seu pode ser motivo de alguma instabilidade emocional”.

Personalidade

Não existe um perfil específico de personalidade das pessoas assexuais. Segundo o sexólogo, “podemos ter pessoas que aceitam e vivem bem com a sua assexualidade sem que isso ‘belisque’ a sua autoestima, autoconfiança ou cause qualquer tipo de alteração do humor”

Não têm interesse por sexo ou sentem repulsa?

A assexualidade, segundo Fernando Mesquita, apresenta várias configurações. “Relativamente à repulsa por sexo é importante avaliar qual a sua origem, se está associada a um evento traumático ou é o resultado de uma educação sexual repressiva. Em qualquer dos casos, se esta condição causa acentuado mal­ ­estar à pessoa, é importante que procure ajuda especializada”.

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Texto: Carla S. Rodrigues

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