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As relações não dão certo porque os casais são preguiçosos: «Não é nada fácil amar»

1 Janeiro, 2020

Cris Carvalho revela os segredos para ter uma relação saudável e duradoura. Mas para isso o casal tem de querer que resulte e não ser preguiçoso.

Em entrevista, Cris Carvalho assume que muitos relacionamentos não dão certo por preguiça do casal, que não é fácil amar e revela alguns segredos para que o relacionamento dê certo. A coach de Casados à Primeira Vista explica ainda porque há muitas pessoas que se apaixonam «sempre» pela pessoa errada.

Entrevista a Cris Carvalho

É fácil amar?

Não. Todo esse processo de relacionamentos é uma escola sobre como aprender a amar, amar o outro e ser amado. Não é nada fácil.

Aprende-se a amar?

Há muitas pessoas que confundem apego com amor, carência com amor… Há muitas pessoas que fazem prisioneiros em vez de criar uma relação de amor. Mas eu tenho de me perguntar ‘para que quero alguém só para preencher espaço na minha vida?’ Ou ‘será que eu quero alguém para aprender a amar?’ Um relacionamento dá trabalho.

O que é mais difícil numa relação?

Acredito que todos os relacionamentos vão tocar numa ferida. O mais difícil é perceber que a culpa não é do outro que está a tocar nessa ferida, é aceitar que se tem essa ferida e que tem de a curar. O outro só está a dar um empurrão. Eu não posso estar o tempo todo a querer que o outro mude ou melhore. É preciso fazer o exercício: ‘Se algo não está a fluir bem, é algo em mim que eu preciso trabalhar’.  Essa vontade de autobservação e melhorar é que é difícil.

É esse um dos segredos para que uma relação dê certo?

Acredito que sim. Se eu entrar numa relação sabendo que vai ser assim, já vou estar com outra atitude, agora se eu entrar à espera que o outro seja perfeito e que nada há mudar em nela mesma, já entra com muitos problemas.

É o que aconteceu com alguns casais de Casados à Primeira Vista?

A experiência intensifica tudo, representa um ano de namoro. Todas as feridas vão sendo tocadas uma atrás da outra.

Por que os casamentos de sonho de Liliana e Pedro e de Anabela e Lucas terminaram depois da lua de mel se havia tanta química?

Nesta experiência nada normal, porque realmente começa-se ao contrário. É uma experiência social. Eu adorei que esta rutura tivesse acontecido. As pessoas usam muito o factor química como desculpa, e o facto de não ter química não investem na relação. A química não é tudo. Quando nós damos a química, eles destroem. A química é um dos elementos do relacionamento e não precisa de ser à primeira vista. É possível ir construindo essa química. Os casais que tinham química descansaram e acharam que não tinham de fazer nada, mas no momento em que um começou a colocar o dedo na ferida do outro, desistiram. É preguiça.

Dicas para melhorar namoro

Há mais amores descartáveis?

Nós estamos num momento em que não temos um único formato tradicional obrigatório de relacionamento. As pessoas têm uma liberdade de se poderem relacionar cada uma à sua maneira. Antes tinha de haver casamento para poder morar junto. Hoje pode-se morar junto sem haver casamento. As pessoas andam meio perdidas a tentar descobrir o que é que querem, se querem um relacionamento mais livre, com mais compromisso, se querem dividir casa ou cada um viver na sua. As pessoas estão a experimentar. Com tantas possibilidades de relacionamento parece que é mais fácil, mas é mais difícil encontrar alguém que queira a mesma coisa.

Era mais fácil amar antigamente?

Não sei se era mais fácil amar, mas a pessoa era obrigada a ficar na escola do amor. Tinha de casar com essa pessoa e fazer a universidade até ao final. Agora pode largar o curso a meio e ir estudar com outro.

As pessoas estão mais egoístas?

Talvez há uns anos, casar e ter filhos fosse o maior dos sonhos. Agora nós podemos sonhar muitos outros sonhos. É possível sonhar mais sobre carreira, conhecer o mundo, explorar. Talvez o sonho do casamento fique mais para trás.

«A capacidade de comunicação de uma pessoa vai-se refletir na qualidade dos relacionamentos»

Como se consegue uma boa comunicação?

Primeiro: Eliminar do relacionamento a competição. Aquela vontade de ganhar a conversa, de estar certo. É um elemento que gera muito atrito. No relacionamento ninguém deve procurar essa vitória, tem de ser um empate. É importante ouvir para entender, não para responder.

Segundo: Saber ouvir. Entender que para se estar certo o outro não tem de estar errado. Para funcionar é preciso complementar, se gosta de determinado programa e eu não, vamos chegar a um entendimento: eu vou, ou vai sozinho?

Terceiro: Saber usar as palavras. Às vezes usam-se palavras que acabam por magoar e depois para curar dá muito trabalho. No outro dia li uma frase «Se você se alimenta-se das suas próprias palavras, estaria bem nutrido ou envenenado?». Numa relação tudo o que disser vai ter impacto.

Quarto: Evitar ao máximo criticar. Quando o fazemos estamos a apontar o dedo e a dizer que o outro está a fazer uma coisa errada. O melhor é partilhar como se fosse um ponto de vista.

Quinto: Elogiar. Estar disposto a observar e a elogiar o outro.

Sexto: Incentivar a pessoa a crescer. Desenvolver o potencial do outro e apoiá-lo. Construir o sonho juntos.

Sétimo: Tornar o dia da outra pessoa mais agradável na minha presença. Quando eu estou com a pessoa o que é que eu vou levar de bom? Muito do desgaste da relação acontece quando se começa a dar o pior para o outro, quando o seu melhor fica para os amigos ou para o trabalho. Quando você chegar a casa já vai estar um caco e vai entregar esse caco ao seu companheiro.

Claro que há dias em que não apetece. Mas aí tem de chegar ao pé dele e dizer. Há uma coisa engraçada no cérebro humano: Se eu não der o significado das minhas atitudes e do meu comportamento, o cérebro inventa e vai dar um significado. Se eu chego em casa, fecho-me, tomo um banho e vou para a cama, o outro não vai entender. Mas se eu disser que não estou bem e que nada tem a ver com a outra pessoa, já dei o significado.

Por que é que nos apaixonamos sempre pela pessoa errada?

Sim, isso acontece. Todas nós temos feridas e o relacionamento vai lá e toca em todas elas. Quando alguém tocou nessa ferida e eu desisti nesse momento, o próximo relacionamento vai-me tocar na mesma ferida, porque é algo que tenho de curar em mim. Não é o outro, sou eu. Quando eu começo a repetir padrões, é a minha ferida que está aberta , aquele que eu atraí para me ensinar o amor tocou lá e eu disse que não. Então parece que eu me apaixono sempre pela mesma pessoa, mas é a minha ferida que está aberta em que o primeiro que chegar vai lá tocar. O problema está sempre em nós.

Texto: Ana Lúcia Sousa; Fotos: Paula Alveno

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