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Covid-19: Médico, psicólogos e enfermeiros unem-se na net para tirar dúvidas a quem precisa

24 Março, 2020

Um grupo de cerca de 300 profissionais de saúde reúne-se numa página de Facebook para tirar dúvidas sobre a Covid-19. O grupo tem mais de 450 mil membros.

Não é um grupo que pretenda substituir as consultas nem fazer diagnósticos. O objetivo é claro: «Foi criado com o intuito de ajudar e tirar dúvidas no contexto da Covid-19, evitando ídas desnecessárias ao SU [Serviço de Urgência]» e, desta forma, ajudar a minimizar o risco de infecção pelo novo coronavírus. O aviso está no topo da página de Facebook COVID19 – Dúvidas Respondidas por Profissionais de Saúde, que em cerca de uma semana já reúne mais de 450 mil membros.

A ideia é que qualquer pessoa possa ver respondidas questões pertinentes relacionadas com a pandemia. Dividida por tópicos, entre eles Grupos de Risco, Sintomas, Crianças, Cuidados Pessoais, Máscaras e Luvas ou Animais, entre outros, é ainda dada a oportunidade de fazer pesquisas e ver as dúvidas que já têm feedback.

«Este grupo surgiu da necessidade de combater a desinformação que circula nas redes sociais, nomeadamente no Facebook, em relação ao coronavírus», conta-nos João Marques, especialista em Comunicação e um dos administradores da COVID19 – Dúvidas Respondidas por Profissionais de Saúde.

Sandra Cerdeira (Médica Patologia Clínica-Isolamento Social), Renata Aguiar (Médica Reumatologista) e Vitor Teixeira (Investigador Doutorado em Ciências Biomédicas) são os restantes ‘fundadores’, aos quais se juntaram, para dar respostas aos membros, cerca de 300 profissionais de saúde.

 

Leia a entrevista:

Como surgiu esta iniciativa?
Surgiu da necessidade de combater a desinformação que circula nas redes sociais, nomeadamente no Facebook, em relação ao coronavírus. É fundamental que os portugueses saibam quais os comportamentos e atitudes corretas que deverão adoptar, de forma a reduzir o contágio e, consequentemente, o número de infectados no país. Para isso, contamos com profissionais de saúde qualificados, de diversas áreas, que se voluntariaram, tornando esta iniciativa, numa das maiores medidas de solidariedade e serviço público numa rede social.

Quantos profissionais de saúde estão envolvidos?
Estão, neste momento, cerca de 300 profissionais de saúde ativos.

Já superam os 450 mil membros. Estavam à espera desta adesão?
Neste momento estamos a caminho do meio milhão de membros ativos. Na verdade, estávamos à espera de um grande crescimento mas não de um crescimento tão grande em tão pouco tempo, dado que apenas passou uma semana e dois dias desde o início do grupo.

Conseguem responder a todas as perguntas?
Neste momento, contamos com um corpo sólido de profissionais de saúde e de moderadores voluntários de diferentes quadrantes clínicos e científicos que garante, não só capacidade de resposta às perguntas levantadas pelos nossos membros em tempo útil, mas também o rigor e a celeridade de todo o processo. Naturalmente, vamos ajustando os mecanismos de triagem da informação à medida que o grupo cresce, pois temos de garantir que a informação veiculada tem sempre por base a melhor evidência científica e médica.

Já houve algum caso que tenha sido diagnosticado depois de ter estado no grupo?
Eu não sei de nenhum.

É fácil gerir as emoções?
Naturalmente que todo este processo se desenrola com uma elevada carga emocional para todos. Temos histórias de pessoas que manifestam pânico ante sintomas que facilmente se confundem com uma gripe sazonal, mas que naturalmente são percepcionados com sendo sintomas de Covid-19, por exemplo. Dada que a linha SNS24 se encontra atualmente sobrecarregada por motivos óbvios em contexto pandémico, as pessoas encontraram em nós um refúgio no qual procuram respostas úteis e recomendações que ofereçam alguma paz de espírito.

É uma responsabilidade acrescida?
Os nossos profissionais sentem o peso dessa responsabilidade no momento em que se preparam para teclar mais uma resposta ou responder em privado para poder ajudar de forma personalizada e adequada. A entrega deles tem sido inexcedível, sem dúvida, e a eles dirigimos o nosso maior cumprimento, pela forma calorosa como recebem e respondem aos nossos membros, pela dedicação, ternura e exímio rigor com que conduzem a sua missão na página, o afeto e disponibilidade incondicionais dos nossos psicólogos, a forma sensata e generosa com que reconfortam e ajudam a reposicionar face aos momentos de maior fragilidade. A todos, dirijo uma palavra de apreço e amizade, por terem sido os protagonistas desta história, que nos ajudaram e ajudam diariamente a completar.

Quando tudo isto acalmar, pretendem manter o grupo?
Ainda não pensámos bem nisso… Honestamente, só queremos que este período pandémico acabe com a menor mortalidade possível. A realidade que se vive atualmente é assustadora para todos nós, especialmente para quem a vive de perto, como os médicos e outros profissionais de saúde, colocando a vida dos outros acima da deles. Esperamos, com isto, contribuir também para o combate à desinformação e iliteracia em Portugal, sendo que ainda se verificam muitas ideias falsas sem fundamento científico e hábitos que prejudicam o nosso sistema de saúde. As pessoas ainda acham que devem recorrer às urgências em caso de situação «não urgente», sobrelotando os hospitais e sujeitando-se a maior risco de contágio, quer por Covid-19 quer por outras patologias já existentes (infecções bacterianas, virais, etc). O ‘vírus’ da desinformação tem que ser combatido por todos os que dispõem de conhecimentos baseados em evidência científica. Não basta fazer porque ouviu «dizer que…» Deverão perceber o porquê da implementação de tal medida e qual a eficácia. Esperemos que, efetivamente, o que estamos a fazer possa contribuir para uma mais rápida recuperação de uma das piores pandemias do século XXI.

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: DR

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