Nacional

Autista de Nazaré admite ser envergonhado e ter falta de confiança

13 Janeiro, 2020

Guilherme Moura, o jovem de 22 anos que se estreou em televisão na pele de Bernardo Blanco, na novela Nazaré, da SIC, foi o convidado do programa Alta Definição, deste sábado, dia 11 de janeiro.

Guilherme Moura, o jovem de 22 anos que se estreou em televisão na pele de Bernardo Blanco, na novela Nazaré, da SIC, foi o convidado do programa Alta Definição, deste sábado, dia 11 de janeiro.

Na ficção, o ator dá vida a um jovem autista, papel que tem sido muito comentado por parte do público e, em conversa com Daniel Oliveira, confessou sentir-se feliz ao ver que o seu trabalho tem ganho grande reconhecimento num curto espaço de tempo.

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«[Na rua] Dão-me os parabéns pelo meu trabalho. E acho que isso é muito bom para mim, enquanto ator, saber que o meu trabalho está a ser reconhecido», começou por revelar, confessando que é um jovem inseguro.

«Normalmente não tenho muita confiança em mim. Não percebo por que é que às vezes me escolhem para fazer as coisas. Não sei se vou fazer bem ou se vou fazer mal mas esse reconhecimento eleva-me um bocadinho a minha confiança», frisou, garantido que prefere focar-se no trabalho, invés de entrar em ilusões.

Timidez e vergonha são algumas das características mais comuns de Guilherme, embora as tenha tentado contornar ao longo dos anos. O jovem garante que a fama «não o ilude» e que a educação que a família lhe transmitiu irá sempre prevalecer. «Os meus pais sempre me apoiaram. Ensinaram-me a não desistir e a trabalhar. Ensinaram a não me iludir e a não cantar vitória muito cedo para não sofrer. Sempre foram muito protetores mas sempre me mostram o mundo lá fora. O meu pai tinha menos paciência. A minha mãe compreendi-me melhor», disse, destacando os tempos de infância que sempre teve medo de ficar sozinho e de ir para a escola. «Ficava a chorar. Chorava muito em pequeno por não ter os meus pais».

Guilherme admite ainda que a família não costuma demonstrar os sentimentos, no entanto, sabe que existe amor,  «Não damos assim tantos abraços, não digo muitas vezes ‘gosto de ti’ porque acho que sabem. A família é para sempre. Ninguém me pode tirar isso. Vão ser sempre os meus pais e não outros.»

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O pior dia da vida de Guilherme

Guilherme foi confrontado com uma pergunta intimista: o pior dia da sua vida. E, emocionado, recordou o trágico dia em que soube da morte do avô. «O meu primeiro confronto com a morte  foi com o meu avô. Foi a única vez na minha vida que eu tive nesta relação com a morte. Estava no meu nono ano, foi o pior dia da minha vida. Esta coisa de perder uma pessoa e não a voltar a ver. Quem me contou foi a minha irmã. Estava em casa. Chegou e disse ‘o avô faleceu’. Só me lembro de ir tomar banho e ficar a chorar no banho. É uma imagem que tenho na cabeça».

A paixão pela representação

Guilherme Moura contou todos os pormenores acerca do seu percurso até aqui, e, ainda, os maiores obstáculos com que se deparou para este enorme desafio. É engraçado que desde cedo tive a paixão pela arte. Quando era mais miúdo era ginasta, fiz tumbling em competição até aos 16 anos e houve uma proposta  de fazer um espectáculo. Foi algo novo porque queria ser ser dono de uma papelaria… acho que era por causa dos cromos de futebol. Na altura gostava de coleccionar…», disse, em tom de brincadeira. «Quando fiz esse espectáculo gostei de experimentar. Entrei para a escola do teatro, em Cascais, depois fiz a licenciatura e tenho vindo sempre a fazer teatro.»

«Quando fiz o casting já sabia que era para um personagem com autismo.  Não sabia nada sobre o autismo, nunca tinha ouvido falar ou pesquisado sobre isto. Foi meio ambíguo não saber o que estava a fazer», contou.

Mas foi numa ida à Federação Portuguesa de Autismo, onde conheceu um jovem pouco mais velho que ele, que realmente se baseou. «Foi o primeiro contacto que tive com alguém com autismo. Foi muito bom poder estar e falar com ele. Mostrou-me que somos pessoas iguais e fiquei comovido por ver que são pessoas puras e que sofrem quando não deviam sofrer. Não são compreendidos, muitas vezes pela família e pelos colegas que os discriminam», adiantou, garantido que ficou comovido com a história: «Contou-me uma história sobre o pai que não o aceitava. Que o via como um peso.»

Guilherme garante receber grande feedback e que chega a receber mensagens de mães que têm filhos com o mesmo problema. «Tenho recebido maioritariamente mensagens de familiares de pessoas com autismo por eu estar a passar uma imagem diferente. Agradecem por estar a conseguir sensibilizar as pessoas».

 

Texto: Márcia Alves; Fotos: Paula Alveno e Divulgação SIC

 

 

 

 

 

 

 

 

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