Nacional

Como explicar a «violência doméstica» às crianças?

28 Abril, 2019

Se alguma vez hesitou em responder às dúvidas do seu filho sobre o que é a violência sobre as mulheres, saiba que deve ter uma conversa franca, de modo a consciencializá-lo para este flagelo.

As crianças são, muitas vezes, as primeiras testemunhas, ou, mesmo elas, vítimas da violência doméstica. Há outras, que não passando por essa experiência, ficam a par desta realidade através dos media. Recorrendo a uma linguagem mais acessível, é importante explicar às nossas crianças o que é este fenómeno e, ao mesmo tempo, demonstrar que existem pessoas que podem sempre ajudar.

A revista Maria esteve à conversa com a psicóloga Bárbara Ramos Dias, que nos ajudou a perceber como devemos educar os nossos filhos, no sentido de criar uma consciencialização contra esta violência.

Num ambiente em que elas são valorizadas

«Falando sobre o respeito para com as mulheres, a igualdade de géneros, incentivando os nossos filhos a serem educados e não desrespeitarem o outro, não só mulheres, mas todos, dando o exemplo», começa por nos dizer, acrescentando: «As crianças aprendem mais com ações do que com palavras. Se elas estiverem num ambiente em que as mulheres são valorizadas e não maltratadas, saberão como devem agir. Desenvolver a sua autoestima é essencial. Crianças e adultos seguros de si não maltratam os outros e não deixam que os outros os maltratem», afirma peremptória.

Muitas vezes nos questionamos se devemos educar rapazes e raparigas da mesma forma, nomeadamente
na questão da violência sobre as mulheres.

«É importante educar os rapazes de forma a que eles compreendam que as raparigas não são mais fracas, que não servem apenas para cuidar das tarefas domésticas e dos filhos, mas que são pessoas capazes, com muitas qualidades e iguais aos homens. Relativamente às raparigas, devemos mostrar-lhes o seu valor, incentivá-las e demonstrar-lhes que são capazes de tudo a que se propõe», garante a psicóloga , ao mesmo tempo que assume o quanto é importante «promover a autoestima das raparigas. Por outro lado, devemos alertar para que tenham atenção a possíveis sinais de uma relação abusiva. Também devemos demonstrar disponibilidade para a partilha, pois assim elas saberão que podem contar com a família».

Podem assistir a estas notícias?

Numa altura em que somos invadidos, todos os dias, com notícias de morte de mulheres às mãos de
homens violentos, a dúvida paira sobre se é perigoso, ou serve de alerta, as crianças assistirem a este tipo de informação. Para Bárbara Ramos Dias é importante que elas tenham noção do que se passa no Mundo.

«Devem compreender que este tipo de comportamentos não só é errado, como é um crime. Os pais devem explicar, desde cedo e com naturalidade estas situações, não creio que devam esconder, ou não responder às perguntas que as crianças colocam sobre o tema. Os pais podem primeiro perguntar o que elas sabem, ou acham, sobre o tema, depois podem tentar perceber quais as suas dúvidas e assim esclarecê- las. Aqui, mais uma vez, a prevenção é crucial», alerta a especialista.

Porém, o acesso livre à informação, nomeadamente aos casos de violência doméstica que estão na ordem do dia, poderão, de alguma forma, criar medo nestas crianças, vindo a refletir-se mais tarde, quando já forem adultos? «É possível que criem medo, mas mais nas raparigas. No entanto, é importante demonstrar que nem todas as pessoas são assim e nem todos os relacionamentos são assim. Podem dar-se exemplos próximos de relacionamentos que são saudáveis», termina a especialista.

Texto: Rita Leal

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