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Júlio Isidro faz 75 anos e renova contrato com a RTP: «Tenho pouco tempo. De vida, até»

5 Janeiro, 2020

O comunicador, que se prepara para celebrar seis décadas de carreira na estação pública de TV, apresentou dois projetos à RTP Memória. Um deles vai arrancar já em janeiro.

16 de janeiro de 1960. Júlio Isidro tinha acabado de completar 15 anos. Estreava-se nesse dia na RTP, ao lado de Lídia Franco, na condução de Programa Juvenil. Passadas quase seis décadas, aquele que é o apresentador português mais velho no ativo renovou contrato com a estação que o viu nascer. Um «contrato de dois anos», conta o comunicador ao site da revista Maria, que celebra este domingo, 5 de janeiro, 75 anos.

«Já é a terceira vez que tenho um vínculo destes, a prazo, o que é uma alegria», refere Júlio Isidro, recordando os «muitos anos que teve contratos apenas a projeto». «Eram para fazer um determinado número de programas e depois acabavam. Este é o terceiro com prazo de 24 meses e para fazer aquilo a que chegar a acordo com a estação», declara.

«Conversa-se muito em televisão»

E, de facto, além de Inesquecível e de Traz pra Frente, na RTP Memória, o apresentador prepara-se para estrear mais dois programas na antena deste mesmo canal. O primeiro arranca já no início do ano, o segundo ainda está por definir. O que os une é o facto de ambos terem «a componente de diálogo».

«Conversa-se muito em televisão, acho que há mais combates do que debates. O Inesquecível é rigorosamente um talkshow. O Traz pra a Frente é um talkshow caótico que eu adoro fazer. Todos aqueles que propus têm uma componente de diálogo, mas não são obviamente talkshow», afirma, escudando-se a desvendar mais detalhes. «A Memória também tem direito a fazer surpresas», ri-se.

«Todos os dias digo que não quero mais fazer televisão»

Embora feliz com a aposta permanente em si, Júlio Isidro não esconde que, de forma intermitente, vai pensado em desistir do pequeno ecrã. «Todos os dias digo que quero mais e todos os dias digo que não quero mais fazer televisão», confessa. Ainda assim, aceitou manter-se ao serviço da RTP por mais dois anos por acreditar que o seu trabalho com Inesquecível, em que convida personalidades a viajar pelas memórias da sua história na estação, «é útil e está a fazer história» ao reunir «um espólio dos artistas portugueses».

Além disso, é o formato mais duradouro da sua carreira. «Vamos no programa 353, temos quase nove anos em antena e cerca de 900 convidados. Nunca tinha feito nove anos de um único formato, nem com os meus maiores sucessos. Ora, falta um ano e picos para os dez e eu gosto de contas redondas. Por isso, pelo menos dez anos deste programa eu vou fazer», assegura.

Mais há mais. O comunicador tem na gaveta «muitos outros projetos» que «jamais serão gravados» e que poderá, um dia, «entregar à Sociedade Portuguesa de Autores para alguém que os queira aproveitar». São formatos pensados «à medida» daquilo que pensa «que são as preferências, os desejos até escondidos, do público». «As preferências do público, mas nunca na base de lhe dar aquilo que ele quer ver. O gosto médio dos espectadores é um artifício para se arranjarem programas de baixo nível», ressalva.

Sem querer atirar nomes para cima da mesa, o também produtor avança que é «daquelas pessoas que odeia dizer» que no seu «tempo é que era bom». «Há atualmente profissionais muito bons, como há profissionais muito maus, como em todo o lado e como sempre».

«Tenho pouco tempo. De vida, até»

Mas, afinal, ao fim de 75 anos de vida e 60 de carreira, como se olha para o pequeno ecrã? Consegue Júlio Isidro ver televisão apenas como mero espectador? A reposta está na ponta da língua: «Não. Não estou a ver apenas o encantamento que está à frente dos olhos. Ou o desencantamento. Estou muitas vezes a adivinhar o que está lá por trás. Eu vejo televisão com prazer, mas seleciono muito. Tenho pouco tempo. De vida, até».

E por muito «pouco tempo» que tenha, assevera que «vê um bocadinho de cada coisa» e que há programas que o fazem «ficar sentado mais vezes» e outros a que assiste «apenas para saber porque é que são assim». «Dizem que a televisão, a caixa mágica, muda o mundo, mas o mundo é que vai mudando a caixa», opina.

E a televisão encanta ou desencanta? «Nem uma coisa nem outra. Raramente me envolvo. E, como não me envolvo, às vezes adormeço», remata.

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: reprodução redes sociais e Impala

 

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