Quim Barreiros é conhecido pelas rimas com duplo sentido. O artista revelou numa entrevista alegre e bem-disposta, como é seu apanágio, que a reforma está longe. Da família, à carreira passando pelo casamento, o cantor mostra não ter papas na língua, perante as questões que lhe foram dirigidas.
Como foi ver o seu pai Joaquim fazer um século de vida?
Foi uma alegria para toda a família e amigos. Ele é muito popular na região, e estávamos todos à espera que fizesse os cem anos [a 15 de fevereiro] para festejar. É uma jóia que tenho ali e que merece tudo.
Existe uma história curiosa, sobre a forma como os seus pais se conheceram…
Ele nasceu no Brasil e, em 1919, o meu avô faleceu, muito novo, e a minha avó viu-se na necessidade de regressar a Portugal. Ela era professora primária, o que era bastante raro naquela época para uma mulher, e já nessa altura o meu pai tinha a pancada por bicicletas e pelo acordeão. Por sua vez, o pai da minha mãe veio para Vila Praia de Âncora trabalhar nos caminhos-de-ferro, onde se conheceram e casaram.
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Pai ainda é independente
O que mais herdou do seu pai?
Penso que foi a sua humildade, o seu espírito de trabalho e honestidade. Já na parte dos afetos saio mais à minha mãe, pois estou sempre a dar beijos. O meu pai é mais recatado.
Gostava de chegar à idade dele?
Só se a tivesse direita (risos). Se chegasse com saúde, claro que sim, mas como acredito que já temos o nosso destino marcado, o melhor mesmo é viver um dia de cada vez.
A morte assusta-o?
Nunca pensei na morte. Quando acordo, foco-me apenas naquilo que tenho de fazer e não estar preocupado com doenças. Procuro apenas ter pensamentos positivos e, nesse aspeto, também saio ao meu pai. A frase preferida dele é «não me incomodem”, pois quando alguém lhe vem falar sobre esse tipo de assuntos, vai-se logo embora.
Ele ainda toca acordeão e arranja bicicletas?
Toca e muito bem. Ainda na sua festa de aniversário foi aplaudido por toda a gente. Tem também a sua garagem onde ainda monta um pneu, tapa um furo…
É ainda uma pessoa independente?
Nunca quis viver com nenhum filho. Tem uma funcionária que lhe faz a comida, mas nunca quis estar dependente de ninguém. É ele quem faz as suas compras, vai ao supermercado…
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«Sou uma pessoa muito positiva»
Foi um filho rebelde?
Disciplinado é que não era. Era muito hiperativo e naquela altura a hiperatividade não se tratava com comprimidos, mas sim à chapada (risos).
É sempre a pessoa alegre que demonstra ser?
Sou. Acordo bem-disposto com alegria, vou para a cama com alegria, ando sempre assim. Também fico sério quando é necessário, mas, por norma, sou uma pessoa muito positiva.
Como é a relação com os seus filhos e netos? Em casa falam da sua música?
É uma relação boa, como a de uma família normal. Confesso que não tenho muita paciência para os aturar [os netos], mas gosto de almoçar e brincar com eles. Na minha casa não se fala no Quim Barreiros cantor, mas sim no Quim Barreiros pai e avô.
Qual o segredo para manter um casamento de tantos anos?
Penso que o melhor óleo para lubrificar um casamento é o adultério (risos). Já lá vão cerca de 43 anos, e
a minha esposa é uma companheira que tenho aqui a meu lado.
Continua a assumir-se mulherengo?
Se o meu pai com 100 anos ainda olha para as mulheres que passam… Foi-me transmitido pelos genes, mas atenção: não é só o Quim Barreiros, são todos os homens, só que enquanto uns manifestam esse lado, outros guardam-no para si. Mas isso deve-se, também, ao facto de, ao longo da vida, nunca gostei de ser conquistado por uma mulher, mas sim de a conquistar.
«Nunca apanhei uma bebedeira»
Considera-se um cantor bem pago?
Não me queixo. Não sou baratinho, mas o que é preciso é não faltar trabalho.
A 19 de junho faz 72 anos. Como vai celebrar essa data? Já pensa na reforma?
Muito provavelmente vou estar a trabalhar. Quando chegar à conclusão que estou a mais em cima do palco, não é preciso que ninguém me diga, que vou embora. Enquanto puder, contem comigo.
Qual o segredo para manter tantos anos este sucesso?
A minha música é a nossa música. A malandrice que coloco nas músicas é a nossa malandrice. Eu não invento nada e isso passa de pais para filhos. E como faço muitas festas nas aldeias, as crianças começam a ouvir-me desde pequenas e depois mais à frente, vou apanhá-las nas festas universitárias.
Quantas horas dorme por noite?
Agora durmo pouco. Cerca de cinco horas no máximo para recuperar as energias.
Tem cuidados com a alimentação?
Sou uma pessoa equilibrada, tanto a comer como a beber. Nunca apanhei uma bebedeira na minha
vida.
É uma pessoa que gosta de luxos?
O único luxo que não dispenso é ter um bom carro, pois faço cerca de dez mil quilómetros por ano. De resto, gosto de praia e depois do verão, vou sempre para o Brasil ou para as Caraíbas durante uma semana.
Texto: Mário Rui Santos; Fotos: João Manuel Ribeiro
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