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Sobrevivente do acidente que matou Angélico fala da tragédia e diz que mantém apenas «o sorriso»

23 Setembro, 2020

Nove anos após o acidente que tirou a vida a Angélico Vieira, Armanda Leite fala sobre o que mudou na sua vida, o apoio do pai e o afastamento dos amigos.

Armanda Leite, uma das sobreviventes do acidente de viação que vitimou o cantor Angélico Vieira em junho de 2011, afirma nove anos depois da tragédia que já teve «mais sonhos». Em entrevista ao programa Júlia, da SIC, a jovem, de 26 anos, afirma que «qualquer ser humano» na sua condição «começa a perder a esperança.» Após um processo de recuperação difícil, que se arrasta até hoje, a angolana continua dependente de uma cadeira de rodas, não mexe o lado direito, e tem sequelas a nível cognitivo. Perdeu a memória do dia do acidente. Só se recorda do que se passou 15 dias antes deste dia fatídico. «Esqueci-me de tudo, o que me lembro é de ouvir falar», afirma Armanda que diz recordar-se de Angélico, mas das outras pessoas que iam no carro não.

Amigos afastaram-se

A jovem, que um dia desejou ser modelo e advogada, também não tem memória dos dias que passou no Hospital de Santo António, no Porto, 16 deles em coma. «Na altura, nem sei que pensava… estava em qualquer sítio a passar férias, sei lá. Quase não senti dores», conta, adiantando que as lembranças surgem apenas quando se mudou para o Centro de Medicina de Reabilitação da Região Centro-Rovisco Pais.

Armanda confessa ter saudades da escola, de fazer fotos enquanto modelo e dos amigos, pois muitos se afastaram ao longo do tempo. Deixaram de aparecer e de ligar. «Tento esquecer esses amigos. Amigos de verdade procuram uma pessoa mesmo quando está doente. Um simples telefonema não faz mal nenhum. Gastam um pouquinho, ma é só para dizer: ‘Olá, estás bem?’». Depois de todos estes anos, esta jovem, que na altura do acidente tinha 17 anos, refere que a única coisa que permanece nela é o sorriso. «Sempre tive um sorriso bonito. Uma pessoa olha para o espelho e compara:’O que eu era e o que eu sou’. Para onde foi aquela Armanda?.»

Pai construiu uma casa adaptada para a filha

Durante todo este processo de reaprender a viver, Armanda Leite tem noção de que o pai foi incansável e esteve sempre ao seu lado. «Largou tudo em Angola para estar aqui. A empresa dele foi à falência… é muito bom pai», diz convicta, acrescentando: «Eu tinha terapeutas da fala, tudo, mas quem me ajudou e ensinou a falar foi ele».

José Borges Leite nunca deixou de acompanhar a filha e preocupa-se com o seu futuro. Por isso, construiu uma habitação para Armanda, anexa à sua, adaptada aos seus problemas de mobilidade. Fê-lo sozinho, com o dinheiro das suas poupanças e antes do Supremo Tribunal de Justiça ter decretado que os pais de Angélico, a Impocar (stand que emprestou o carro ao cantor) e o Fundo de Garantia Automóvel teriam de indemnizar Armanda. «A vida para quem é ´cadeirante’ é difícil, tem muitos obstáculos», afirma a jovem que continua a gostar de ir ao shopping «entrar nas lojas de roupa e ver as novidades». O que a deixaria feliz? «Fazer fotos.»

O pai, José Borges Leite, crê que o acidente se ficou a dever a uma falha mecânica, não responsabilizando Angélico. «Ao Angélico não ia apontar o dedo. Sabia que ele não bebia, não tinha vícios. Depois de ir ao local do acidente, fiquei logo mais descansado por não ter sido ele. Não vou afirmar que não houve excesso de velocidade, mas que o acidente não foi por culpa dele sempre tive consciência disso. Para mim foi uma falha mecânica». E deixa mensagem à família do cantor: «Continuamos a ser amigos deles e queremos tudo de bom para eles. Se precisarem de alguma coisa, estamos aqui.»

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Texto: Carla S. Rodrigues; Fotos: Reprodução e Arquivo

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