Nacional

Bronca: Casados à Primeira Vista abre polémica com Ordem dos Psicólogos

19 Novembro, 2018

Alexandre Machado afinal é psicólogo júnior e qualquer especialista inscrito na Ordem dos Psicólogos Portugueses não pode dar o seu parecer no espaço público. A polémica está instalada.

Rebentou a bolha no programa da SIC, Casados à Primeira Vista. Afinal Alexandre Machado, que se apresenta como neuropsicólogo, é psicólogo estagiário e só pode ser chamado como tal, como nos disse a Ordem dos Psicólogos Portugueses. «O Dr. Alexandre Machado apenas se poderá apresentar enquanto Psicólogo Júnior (isto é, psicólogo estagiário), não podendo apresentar mais nenhum outro título obtido em Portugal», refere, fonte oficial da Ordem.

O programa que casa pessoas sem nunca se terem visto antes com base no perfil de cada um, analisado por um psicólogo Fernando Mesquita, um neuropsicólogo Alexandre Machado, um coach, Eduardo Torgal e uma coach Cris Carvalho, (segundo são conhecidos no formato), está a ser passado a pente fino pela Ordem dos Psicólogos Portugueses (OPP). Em causa está a proibição, pelo código deontológico da profissão, de estes profissionais fazerem intervenções psicológicas no espaço mediático.

Parecer da Comissão de Ética da OPP

A produtora do formato, apresentado por Diana Chaves, pediu um parecer à Comissão de Ética (CE) da OPP, sublinhando a presença de psicólogos e de outros profissionais no programa. De acordo com as informações que foram adiantadas pela própria produtora, a CE pronunciou-se da seguinte forma.

«Reconhecendo vossas excelências a impossibilidade de ser levada a cabo qualquer tipo de Intervenção Psicológica no espaço mediático, independentemente de qualquer consentimento dos participantes, fica pouco claro o que se espera dos psicólogos participantes.Recorda-se que, e de acordo com o Código Deontológico da Ordem dos Psicólogos Portugueses, os psicólogos quando solicitados a comentar casos particulares, pronunciam-se sobre os problemas psicológicos em questão mas não sobre os casos particulares», diz a OPP ao nosso site.

Mais, não foi informado que especialistas iam estar no programa. «Desconhecendo que outros terapeutas para além de psicólogos estarão presentes no programa, questionou-se esta Comissão de Ética sobre quais os objetivos disso mesmo, partindo do princípio que não existem muitas profissões reconhecidas a trabalhar neste contexto», continua a mesma fonte oficial.

«Isto poderá criar nos telespectadores uma representação simplista, ou mesmo distorcida, sobre o que é a intervenção do psicólogo, com prejuízo não só para a imagem da profissão mas sobretudo para os seus potenciais beneficiários», acrescentou a mesma fonte oficial.

Profissionais de “coaching” presentes no programa

Cris Carvalho é a coach do programa, mas nem a análise desta especialista escapa ao olho clínico da Ordem. «No que diz respeito ao coaching, e muito em particular ao coaching nas áreas da saúde/relacionais, a OPP defende que terá de ser desenvolvido por psicólogos – a prestação de serviços psicológicos por profissionais não qualificados coloca uma ameaça à saúde pública, assim como à segurança e ao bem-estar da população (para além de ser ilegal)», aponta a ordem.

«Paralelamente, o facto da atividade do coaching não ser regulada (apenas na OPP é que existe a especialidade avançada de coaching psicológico e regula esta atividade desenvolvida pelos seus membros) acarreta ainda maiores perigos. Clique aqui para consultar o parecer da OPP sobre o coaching», sublinha o parecer.

A coach, Cris Carvalho também levantou questões sobre hipnose. «A questão da hipnose (que a “coach” do programa afirma fazer), é uma das técnicas e ferramentas de intervenção das quais a Psicologia se pode socorrer para trabalhar as emoções, os conflitos internos e o inconsciente do cliente. Consequentemente a Hipnose faz parte do perfil de competências profissionais dos Psicólogos e dos actos que podem realizar enquanto Psicólogos», interrompe.

A OPP continua o seu parecer. «Para além disso, apenas deve ser realizada por profissionais com formação específica para tal; desta forma, fica clara a importância e a necessidade de uma formação de base específica em Psicologia para compreender, avaliar e intervir no comportamento humano através da Hipnose», afirma.

Situação em análise

Desta forma, e por ser necessário analisar eventuais irregularidades ou não conformidades com o Código Deontológico da OPP, decidiu a Direcção da OPP reencaminhar a situação para análise do órgão competente, ou seja, Conselho Jurisdicional, que se apresenta como um órgão isento, autónomo e imparcial. Refira-se que este órgão ainda não se pronunciou, já que tem de respeitar e seguir determinados trâmites e prazos processuais», termina.

Texto: Ana Lúcia Sousa

 

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