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O antes e o depois do cancro: O que muda num doente oncológico

19 Maio, 2019

cancro

Conheça os testemunhos de uma doente, de uma sobrevivente do cancro e de uma familiar de uma doente oncológica que acabou por falecer.

O cancro é uma das doenças que mais vidas rouba em Portugal. Segundo dados estatísticos disponibilizados pela Liga Portuguesa Contra o Cancro, em 2018 registaram-se mais de 40 mil novos casos em Portugal. De modo a perceber de que forma esta doença tem mudado, e condicionado, milhões de vidas, falámos com dois especialistas da Liga Portuguesa Contra o Cancro, o Médico de Saúde Pública António Morais e a Psicóloga Sónia Silva.

Neste artigo é explicado de que forma deve ser feita a prevenção do cancro. Ao mesmo tempo, damos a conhecer testemunhos de uma doente e de uma sobrevivente do cancro e ainda de uma familiar de uma doente oncológica, que acabou por falecer. Saiba como se sente um doente diagnosticado com cancro e como deve reagir e ajudar uma pessoa com este problema.

Cancro do Esófago com letalidade mais elevada em Portugal

Em 2018, só em Portugal, registaram-se cerca de 28 mil óbitos, dos quais 3800 são resultado de cancro do pulmão e aproximadamente o mesmo número de mortes por cancro do cólon e reto. Ligeiramente mais de mil mortes por cancro do estômago (taxa superior à maioria dos países europeus) e aproximadamente 1600 óbitos por cancro da próstata e sensivelmente o mesmo número para o cancro da mama.

«Todos os anos há um acréscimo no número de novos casos de cancro, todavia a taxa de mortalidade tem-se mantido estável», segundo António Morais.

É ainda importante realçar os cancros com letalidade mais elevada em Portugal, como o esófago, pâncreas e cérebro, cujas estratégias preventivas e curativas carecem de maior desenvolvimento.

De que forma deve ser feita a prevenção?

Alimentação, hábitos e comportamentos influenciam a saúde. Se não detém uma alimentação saudável, se consome álcool em excesso, se fuma e se adota hábitos sedentários está a prejudicar a sua saúde e a aumentar o risco de problemas graves. «O tabaco é um dos principais riscos de cancro, doenças cardiovasculares e respiratórias», afirma o médico, acrescentando ainda que, atualmente, «continuamos a ter um aumento no consumo de álcool». Também a obesidade, nomeadamente a obesidade infantil, são questões preocupantes, resultado da «sobrecarga de alimentos e da ausência de exercício físico». Também «os consumos de sal, açúcar e de gordura» têm papel importante na génese de doenças como o cancro.

Depois da abordagem através da prevenção primária – modificação de hábitos, comportamentos e estilos de vida – considera-se fundamental a boa prática em prevenção secundária, sobretudo assente em rastreios oncológicos. O cancro da mama, do colo do útero e do cólon e do reto podem ser diagnosticados antecipadamente.

O cancro do colo do útero, embora possa ser primariamente prevenido pela vacinação, demora anos a instalar-se, podendo ser descoberto a tempo de ser totalmente controlado e até prevenido o seu desenvolvimento. Igualmente o cancro do cólon e do reto tem um tempo de latência longo, podendo ser detetado numa fase muito inicial através de programa de rastreio. O cenário é mais preocupante, uma vez que rouba, por ano, cerca de 3800 vidas e o rastreio tem ainda uma baixa implantação no país.

É importante referir também que, para além dos cuidados de diagnóstico e tratamento, devem ser implementadas medidas de prevenção terciária, assentes numa atuação organizada, rápida e persistente em doentes com cancro, visando a restituição funcional e da qualidade de vida, bem como a reintegração familiar, social e profissional do doente.

Em todo o processo de doença oncológica deve ser tida em conta a aplicação de medidas de prevenção quaternária, em que deve ser sempre ouvido o cidadão, sobrepondo-se à opinião do profissional de saúde, pela decisão sobre tratamentos a que se sujeita.

Descoberto o cancro, como se sente um doente oncológico?

Quando um doente é diagnosticado com cancro, é comum que surjam sentimentos como «medo, incerteza e falta de esperança». Embora cada caso seja um caso, é normal que, inicialmente, existam momentos de «choro e desespero, choque e negação». «É frequente sentir revolta e uma tristeza profunda, sentimentos estes que tendem a diminuir à medida que o doente vai tendo maior perceção de controlo sobre a doença, por exemplo, começa a reconhecer a suas reações aos vários tratamentos e o que o faz sentir-se melhor e pior», explica Sónia Silva.

«O cancro é visto como uma doença indesejada e, assim que é diagnosticado, representa um momento de crise podendo ser mais tarde entendido como um acontecimento traumático, sendo frequente os doentes referirem «um antes do cancro e um depois do cancro».» A palavra cancro tem um grande peso, uma vez que «é visto como sofrimento», embora seja cada vez menos encarado como «uma sentença de morte».

É importante que o doente conheça um pouco mais e compreenda a sua doença e o tratamento que vai fazer, recorrendo ao médico ao invés de procurar informações que podem ser enganosas, através da Internet.

É necessário que cada doente oncológico «conheça e respeite as suas limitações e necessidades, frequentemente resultantes dos efeitos secundários dos tratamentos, como por exemplo, a maior necessidade de ter momentos de repouso e de desempenhar tarefas de formas lenta». Muito embora o sofrimento emocional e as alterações na imagem corporal provoquem uma redução no interesse em estar com os outros, deve também «evitar o isolamento social», pois o apoio de familiares e amigos é fundamental para o equilíbrio emocional neste período mais crítico. Falar abertamente sobre a situação que se encontra a vivenciar pode ser benéfico, mas cada pessoa tem a sua forma de gerir as suas emoções, pelo que deve ser o doente a abordar o tema.

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