A anemia é uma condição clínica que resulta de diminuição do número de glóbulos vermelhos no sangue para valores inferiores aos considerados normais. Em entrevista à Maria, João Mairos, presidente do Amenia Working Group Portugal, alerta para a necessidade de estarmos atentas aos sintomas, bem como a importância do seu diagnóstico e tratamento adequado.
Porquê a necessidade de um dia sobre a anemia?
Porque é um problema de saúde pública, uma epidemia, que afeta cerca de 20 por cento dos portugueses adultos. Uma pessoa em cada três sofre de baixa de ferro no sangue e mais de metade das anemias depende do ferro. Por outro lado, 84 por cento dos anémicos não sabe que tem a doença, que afeta a qualidade de vida das pessoas, e por isso achámos que era importante existir um dia nacional.
Qual a razão para estes números elevados?
Existem várias razões. Uma delas é a alimentação. Temos uma alimentação mediterrânica, que promovemos muito, mas não a fazemos. Começámos a retirar a gordura aos alimentos e comemos cada vez mais fast food. Mas essas situações estão a par de outras que levam à anemia e não são diagnosticadas.
É então um tema ainda algo subvalorizado?
Penso que sim. Talvez as pessoas estejam pouco alertadas para os sintomas. podem facilmente atribuir o seu excesso de cansaço diário, a sua dificuldade em concentrar-se no trabalho, a fadiga exagerada, a todas essas coisas. muitas vezes, demasiadas, será anemia ou simplesmente uma deficiência de ferro a causar tudo isso. Bastaria estar atenta e falar sobre esses sintomas ao seu médico.
Risco aumentado
As mulheres são o grupo suscetível ao desenvolvimento de anemia?
As mulheres são perdedoras crónicas de sangue, sobretudo em idade fértil, nas fases de menstruação e por terem doenças que as faz sangrar mais. Automaticamente, têm depósitos de ferro sempre mais baixos e, também, por esse motivo, os critérios de hemoglobina da OMS para a classificação da anemia nas mulheres consideram valores mais baixos do que para os homens (12,5g/dL nas mulheres, 13g/dL nos homens e 11g/dL nas mulheres grávidas).
A anemia pode então complicar problemas mais graves?
Pode complicar e vir na consequência de outros problemas. Por exemplo, as mulheres por vezes apresentam miomas e pólipos que são doenças do útero e, quando as têm, sangram muito e habituam-se a isso. Ao chegar à consulta, já em cansaço extremo, aumentam o risco de transfusão e de infeções hospitalares.
Que mensagem gostaria de deixar?
Gostaria de deixar duas mensagens: a primeira é que a anemia tem uma prevalência elevada na população portuguesa adulta (nas crianças e adolescentes ainda estamos por saber exatamente). Um em cada cinco portugueses adultos sofre de anemia e apenas 2,8 por cento estão a ser tratados.
Por fim, a segunda é um apelo para que se comece a dar a necessária e urgente atenção à implementação efetica do PBM em Portugal, que consiste em considerar o sangue de cada um de nós como um tesouro único e tomar uma série de ações clínicas e organizacionais para o preservar como primeira prioridade, evitando e recurso à transfusão.
Prevenir a anemia
A visita regular a um médico ginecologista é extremamente importante para detetar e tratar a doença, permitindo “diagnosticar precocemente a existência de doenças ginecológicas causadoras de anemia. Além disso, a prescrição adequada de contracetivos pode ser uma forma eficaz de prevenir a doença”, aconselha o ginecologista.
Sintomas da anemia
Nas fases iniciais, a anemia tende a passar despercebida, sendo confundida com fadiga. Nas fases mais avançadas associa-se a:
- Falta de força generalizada;
- Palidez na pele e mucosas dos lábios;
- Dores de cabeça;
- No caso das mulheres, perdas menstruais demasiado abundantes ou muito frequentes;
- Dificuldade de concentração;
- Depressão;
- Queda de cabelo e unha quebradiças;
- Perda de apetite.
Texto: Mário Rui Santos
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