Saúde e Bem-Estar

Testosterona: Amiga ou inimiga das mulheres?

14 Setembro, 2019

O caso de Ângelo Rodrigues rotulou a hormona masculina como a vilã da história, mas sabia que ela não é a má da fita?

Seja por razões estéticas ou médicas, a utilização da testosterona (seja em comprimidos, injetável ou até em spray) é prática comum um pouco por todo o Mundo. No caso dos homens e das mulheres que querem aumentar a performance desportiva, ganhar mais músculos e secar gordura num curto espaço de tempo, a testosterona na sua forma injetável é, infelizmente, usada de forma quase indiscriminada.

Aquela que parece a melhor opção para resultados rápidos é também a que mais riscos de saúde provoca e falamos de danos irreversíveis, como a falência renal ou problemas cardíacos. O caso que envolve o ator Ângelo Rodrigues trouxe este assunto para a ordem do dia e a revista Maria foi saber, junto da endocrinologista Sílvia Saraiva os perigos que corremos, mais precisamente o sexo feminino pois, a determinada altura, a substituição hormonal na menopausa pode ser essencial.

Entre o bom senso e o exagero

Mais conhecida como a hormona sexual masculina, a testosterona tem um papel fundamental na medicina e, muito embora agora seja vista como a má da fita, a verdade é que é essencial em muitos aspetos. «Temos de pensar que os tratamentos hormonais são usados em meios médicos e que estes só fazem mal quando administrados em doses excessivas e desnecessariamente. A nossa capacidade de, muitas vezes, darmos mais qualidade de vida às pessoas/pacientes, tem passado por uma certa manipulação hormonal. Porém, entre o bom senso e o exagero vai uma grande diferença e que torna as coisas perigosas», começa por nos explicar a Dra. Sílvia Saraiva.

Muitas vezes, há a necessidade, por parte de um endocrinologista, de manipular o sistema hormonal de uma/a paciente de forma a dar-lhe mais qualidade de vida. O caso da menopausa é apenas um dos melhores exemplos que podemos dar de forma a que a leitora compreenda o que estamos a falar.

«Quando medicamos uma menopausa estamos a regular um tratamento hormonal, quando medicamos os ovários policísticos, logo na adolescência, estamos a dar um tratamento hormonal. Neste caso, mais concretamente, temos de frenar a produção de testosterona e não dá-la, pois o seu excesso nas mulheres tem malefícios embora ela também produza testosterona em pequenas quantidades que é necessário para ter um certo vigor e energia anímica», esclarece a especialista.

Pode potenciar a agressividade

Já o reverso da medalha, ou seja quando a hormona masculina é administrada em exagero, os efeitos vão muito além do que se torna visível, implicando até uma alteração significativa na personalidade da paciente. «Pelos a mais, voz mais grossa, maior impulsividade e agressividade e queda de cabelo. Quando há aumento do clitóris indica que a paciente já esteve submetida a doses excessivas. São os chamados efeitos masculinizantes: aumento dos pelos, queda de cabelo, transformação progressiva dos órgãos sexuais que podem levar, em último caso, à hipertrofia do clitóris», alerta a Dra. Sílvia Saraiva.

Porém, as mulheres que estão acompanhadas por um especialista, neste caso um endocrinologista, podem estar tranquilas pois com regularidade os parâmetros hormonais são verificados. O problema surge quando a administração de testosterona – seja em que forma for – é feita sem consentimento médico e de forma indiscriminada.

«Quando damos a nós próprias hormonas exteriores estamos sempre a inibir a produção das nossas. Se isso for feito de forma continuada, até que a inibição das hormonas pessoais seja forte, existe o perigo de diminuir a fertilidade. Conforme a quantidade for administrada e até que ponto o eixo hormonal foi suprimido. Acabam por suprimir toda aregulação das suas hormonas sexuais e o desenvolvimento da sua feminilidade», acrescenta a endocrinologista.

Falência de órgãos vitais

Os riscos que as mulheres correm se optarem pela automedicação ou reposição hormonal sem o devido acompanhamento resultam em danos tão graves que um cancro facilmente curável pode ver o seu crescimento e desenvolvimento potenciado por causa da testosterona.

«Para além da subida da tensão arterial, arritmias e falência de órgãos é importante compreender que, em geral, o maior efeito das hormonas (quer estrogénios quer testosterona) não é desencadear os tumores. É fazê-los crescer se eles aparecerem. Não há qualquer aumento da mortalidade nas mulheres que tomam estrogénios como SHM, têm de estar mais vigiadas pois se tiverem o azar de ter um tumor da mama ou do útero terão imediatamente de parar essa substituição pois vai promover o seu crescimento», diz a médica.

Os benefícios da SHM são inúmeros, como salienta a Dra. Sílvia Saraiva. Porém, «desde que feita de
forma correta e sem exageros. A virtude está no equilíbrio. As correções dos défices hormonais desde feitas com bom senso são benéficas para a saúde. A terapêutica hormonal da menopausa envelhece melhor quem a faz do que uma mulher que não faz. Tem menos problemas cardíacos, de ossos, tem melhor capacidade cognitiva. Se quiser exagerar vai sofrer os seus malefícios. Mas tudo isto tem de ser feito com prescrição médica», conclui a especialista.

Leia ainda: PJ não vai investigar caso de Ângelo Rodrigues. Ator será submetido a reconstrução

Texto: Carla da Silva Santos com Ana Silveira

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