Nestes mais de 50 anos de carreira, foram muitas as conversas que a Maria teve com Marco Paulo. E dessas destacam-se, sobretudo, as produções em que o artista acedeu fotografar com o seu afilhado, Marco António. Este era ainda criança (as últimas fotos datam de 1996). No aniversário dos 40 anos da revista Maria lançamos o desafio: voltar a fazer uma produção com o cantor, 73 anos, e reencontrar o agora jovem de 27.
Comecemos por um tema que muita polémica gerou no verão. O cancelamento de um espetáculo e o seu afastamento durante todo esse
período.
Mais de quatro milhões de discos vendidos
O que aconteceu consigo este verão para ter cancelado o concerto dos Açores?
Foi o resultado de cansaço, de falta de cuidado da minha parte, de não ouvir o meu corpo. Embora respeite muito a opinião do meu médico, possivelmente não lhe dei a atenção que ele muitas vezes me pedia. Por exemplo: o não almoçar a horas, o de gastar energias e não repor, não comer antes de atuar. No ano passado fiz uma operação em que me foi retirado metade
de um rim e dei 26 concertos. Estava mais frágil.
Mas, agora, regressou aos espetáculos e às grandes salas, tendo feito um concerto – esgotado – no dia 27 no Campo Pequeno. Pergunto-lhe se conquistou tudo o que ambicionou para si nestes 52 anos de carreira?
Mesmo com algumas contrariedades da vida e problemas de saúde, tudo aquilo que eu desejei aconteceu. Eu só tinha uma falha na minha carreira que era ainda não ter cantado nas grandes salas… achava que as pessoas não iriam ver, podia dar prejuízo. Mas o sucesso daqueles concertos, há dois anos, foi uma surpresa muito grande. E depois de quatro milhões e meio de discos vendidos ao longo de 50 anos, tantos prémios, tantas viagens, tantos concertos pelo Mundo, havia essa falha.
A minha editora propôs-me o concerto dos 50 anos e acabei por concordar. O meu patrão é o meu publico, que paga para me ver. É aos meus fãs que tenho de dar uma satisfação. Mas depois das casas esgotadas e de tanta gente a ir querer ver-me
e ouvir-me, aceitei que os portugueses gostam de mim. Graças a Deus as pessoas respeitam-me. Sabe, sou muito mimado,
sou muito apaparicado no bom sentido. As pessoas estimam-me.
“Estou mais atento às pessoas”
E agora prepara-se para lançar um novo disco…
Vou cantar músicas de muitos artistas que eu gosto, como o Pedro Abrunhosa, Julio Iglesias, Amália, Gal Costa, de Isabel
Pantoja a Luis Miguel. O disco tem dois originais e dez versões… Gostava que fosse lançado no dia dos meus anos, no Dia dos Namorados, ou na Páscoa, são datas que eu gosto muito. Não sei se vai ser o meu último disco, o público é que decide.
Mas está aí cheio de força…
Eu tenho força para continuar, passo os dias a ensaiar, os meus músicos ficam todos de boca aberta como é que eu tenho esta energia, esta voz tão brilhante, mas eu tenho noção da realidade, não sou uma pessoa que viva obcecada ou fora da realidade porque já passei por situações muito complicadas e não posso pensar que é tudo cor-de-rosa e para sempre. A
própria vida encarrega-se de organizar as coisas, dá-nos e tira-nos a juventude.
E acha que a idade lhe trouxe mais dores ou mais sabedoria?
Trouxe-me mais sabedoria. Estou mais atento às pessoas, mais atento ao mundo, ao dia-a-dia, até mesmo no meu relacionamento com os outros. Hoje, sou um bocadinho mais desconfiado com as pessoas, mas não tenho razão de queixa. Eu gosto muito de viver, da vida, mas não gosto da maneira como o mundo está a ser dirigido. Não há valores, até porque
eu tenho um afilhado com 27 anos. Felizmente, ele transmite-me valores muito bonitos. Tenho noção que o Marco António é um jovem raro. Ele é o filho que não tive.
E percebe-se que há muito carinho entre vocês os dois. Ele é muito atento a si.
Sim, é muito preocupado comigo. Embora esteja a estudar na Holanda vem regularmente a Portugal, para ver os pais e a
mim, para tocar nos meus concertos.
Afilhado ESTUDA MÚSICA na Holanda
Marco António tem 27 anos e está há um ano na Holanda a estudar Música no Conservatório. No entanto, regularmente vem a Portugal, não só para tocar nos concertos de Marco Paulo, mas para trabalhar com outros músicos. Tem namorada, que estuda em Inglaterra, e diz que é difícil gerir as saudades, não só em relação à mulher que ama como aos pais, ao padrinho e aos amigos.
Mas está apostado numa carreira musical e embora a sua atração pela matemática fosse muito forte, descobriu que a música
era a sua grande paixão.
Texto: Anabela Colaço; Fotos: José Manuel Marques; Produção: Sónia Reis
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