Nacional

André Gago foi despedido por ter ido a um funeral: «O absurdo do mundo dos vivos»

7 Janeiro, 2019

O ator revelou na sua página de Facebook que foi despedido depois de ter avisado e faltado a um ensaio para ir a um funeral.

«Voltei para casa com um misto de emoções». A frase é de André Gago e foi partilhada no Facebook para contar que foi despedido por ter ido «prestar condolências» a um amigo.

«Hoje [dia 7 de janeiro] fui a um funeral. Avisei ontem que não iria às primeiras horas dos ensaios de uma peça a estrear no último dia de janeiro. Quando cheguei àquele que seria o quarto dia de ensaios, com o consequente atraso de duas horas e meia, fui despedido. É a primeira vez que me acontece», desabafa.

O episódio fez André Gago lembrar «o absurdo do mundo dos vivos e o absurdo da morte». «Ainda bem que fui ao funeral. Vale muito mais do que o trabalho que perdi».

Leia o texto do ator, que lhe deu como título «DOS VALORES DE PRODUÇÃO”:

«Hoje fui a um funeral. Avisei ontem que não iria às primeiras horas dos ensaios de uma peça a estrear no último dia de janeiro. Quando cheguei àquele que seria o quarto dia de ensaios, com o consequente atraso de duas horas e meia, fui despedido. É a primeira vez que me acontece.

Voltei para casa com um misto de emoções: o absurdo do mundo dos vivos e o absurdo da morte, que nos lembra que a vida é um fósforo breve em que há valores mais importantes do que o estrito cumprimento dos horários.

Esta produção foi anunciada em cima do joelho. Avisei que tinha alguns compromissos ainda nos primeiros dias do mês, e que isso me colocaria alguns entraves, pelo menos durante a primeira semana de ensaios. Recebi uma admoestação escrita. Devia ter saltado fora. Estou habituado a isto: as produções querem sempre o máximo tempo de nós, e levam a mal que tenhamos uma vida, mesmo que seja também ela profissional.

Por isso, entre outras coisas, tenho consultas por fazer desde outubro, que não marco, porque é preciso é trabalhar e estar disponível para os sobressaltos que a ausência de planificação estabelece. Estou habituado a que só os atores não possam ter sobressaltos. Como funerais, por exemplo. Não esqueço, do dia de hoje, a emoção do abraço do meu amigo, a quem fui prestar condolências. Ainda bem que fui ao funeral. Vale muito mais do que o trabalho que perdi.

Espero que a peça corra bem. E desejo aos meus colegas uma vida longa e sem sobressaltos. Disponibilidade absoluta, e sem mácula: eis o que parece ser vital para a conceção que algumas pessoas têm do que é realmente importante no Teatro. Não para a minha conceção de Teatro, certamente, que diverge muito da ideia de escritório, de fábrica, com apito e relógio de ponto.

Agora vou gozar o Sol deste dia belo e triste, pensar na vida, e depois vou continuar a trabalhar, que é uma coisa que gosto muito de fazer.»

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: reprodução redes sociais

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