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Entrevista a Diogo Carmona: «Espero, um dia, conseguir falar sobre o que aconteceu»

30 Janeiro, 2020

Em entrevista à revista Maria, Diogo Carmona fala sobre a fase de adaptação que está a passar depois de ter sofrido um acidente que lhe amputou o pé.

A vida de Diogo Carmona mudou no dia 26 de outubro do ano passado. O ator foi colhido por um comboio na  estação ferroviária de São João do Estoril, em Cascais. O acidente levou à amputação do pé direito. Três meses depois, o jovem, de 22 anos, diz estar em franca recuperação e aguarda uma prótese. Será esta a dar-lhe a liberdade que tanto deseja para regressar à prática de skate, uma das suas maiores paixões.

A representação, arte que o deu a conhecer ao público quando era ainda criança, é também uma «chama», mas a precisar de «fonte de ignição»…

Leia a entrevista que Diogo Carmona deu à revista Maria:

Como está a correr a recuperação?
Está a correr bem. Estou a fazer fisioterapia e a tratar da prótese. Está a ser feita para eu poder fazer desporto.

Para poder voltar a praticar skate?
Sim. Estou a treinar o meu equilíbrio e tudo. Estou a começar só agora a partilhar mais vídeos nas redes sociais porque antes fazia exercícios mais básicos e não tão significativos. O meu fisioterapeuta está a começar a puxar por mim.

Sente que essas partilhas podem servir de exemplo de superação para quem passa pela mesma situação?
Sim, sim. Quando partilhei este vídeo também acabei por ter um feedback, de que não estava à espera, de comentários positivos.

O que lhe dizem?
(Silêncio) O que sinto é que há mais empatia. Se uma pessoa sofre do mesmo problema do que eu, é normal que falemos sobre isso. É um ponto que, infeliz ou felizmente, une as pessoas. Acabamos por trocar ideias sobre a melhor forma de recuperar.

Vai buscar força extra para enfrentar esta sua nova vida às mensagens que recebe e ao que lhe dizem na rua?
Sim. Além disso, recebo também algumas mensagens de pessoas com outros problemas, como de pessoas com cancro. Não posso ajudar essas pessoas diretamente, mas acabamos por falar e por darmos força uns aos outros.

«Não acho chocante ser tão visível eu ter assim a perna»

Nesta fase de adaptação, o que é que está a ser mais complicado?
O equilíbrio. Eu neste momento estou a treinar o equilíbrio. Aquela tábua do vídeo faz o movimento do skate e é esse equilíbrio que, acima de tudo, tenho de treinar porque foi o que perdi mais. Essa adaptação está a ser difícil, mas depois com a prótese será diferente. Irei treinar com ela quando a tiver.

O que mais o motiva é regressar ao skate?
É um bocado, sim. Tenho o desejo de poder voltar a andar. Embora eu possa fazê-lo neste momento, não é a mesma coisa. Tenho de desejo de andar sem ter de usar duas muletas… Sim, é isso que me move e estou a trabalhar para isso.

O que é que é mais difícil de lidar: a parte física ou a parte emocional?
Não sei… Acho que… Eu não acho chocante ser tão visível eu ter assim a perna. Estando eu nesta situação, eu vou tentar ajudar as pessoas que são como eu. Vou ver o que é que posso fazer. Mostrar-me tem esse objetivo.

«Ainda estou numa fase de habituação»

Quer com isso dizer que a parte mais difícil de lidar é a emocional?
Repare, eu ainda estou numa fase de habituação a esta minha nova realidade. Não é de um dia para o outro.

Sentiu, em algum momento, vergonha do seu novo físico?
Nunca. Apenas de adaptação mental e física.

Nem dificuldade em ver-se a um espelho?
Nunca me aconteceu. Para ser sincero, aquilo que me acontecia no início era eu meter os dois pés no chão e… pronto… um deles não estava lá.

Recuando, o que é que afinal aconteceu naquele dia do acidente?
Não quero falar.

«Espero, um dia, conseguir falar abertamente»

Porque ainda é traumatizante?
Desculpe, mas é-me difícil falar nisso. Espero, um dia, conseguir falar abertamente.

Falou já várias vezes em regressar ao skate. E o sonho da representação continua vivo?
Continua. A chama está cá, tem é de haver alimentação para ela. Se não há uma fonte de ignição, é complicado. Há poucos atores que falam comigo. Não sei se é por uma questão de estatuto.

Não tem recebido o apoio deles?
Com tanta gente que eu conheci, que passou imenso tempo comigo, não houve nenhuma… Não há obrigação de me mandarem uma mensagem. As pessoas não são obrigadas a dizer seja lá o que for, mas da parte de pessoas com quem trabalhei, foram poucas as que me disseram alguma coisa. Claro que tenho amigos que são atores e que continuam aqui para mim.

Não teve nenhum convite para regressar à TV?
Fui convidado para dar entrevistas para a SIC e para a TVI, mas foram as únicas chamadas que recebi.

Acha que a quezília que existiu entre si e a sua mãe, ainda antes do acidente, pode ter sido prejudicial para si no sentido de dar uma ideia errada sobre quem é o Diogo?
Penso que não. Houve notícias mais infelizes, mas não penso que isso tenha influenciado.

«Ainda tenho de estar mais comigo»

Já agradeceu publicamente aos seus avós, com quem vive, e ao seu pai pelo apoio que lhe têm dado…
Eles têm sido incansáveis. Não tenho nada a apontar.

Mas não agradeceu à sua mãe. Continua a existir um afastamento entre os dois?
Sim.

Aquilo que se tem noticiado, que ela não lhe dá o apoio necessário, é verdade?
É.

Se lhe pedir para me dizer quais os seus objetivos mais imediatos?
Recuperar. Ainda tenho de estar mais comigo.

Está numa fase de adaptação a si próprio?
Sim.

Tem tido ajuda profissional nesse seu percurso?
Tenho e acho fundamental.

Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: reprodução redes sociais

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