Nacional

Homicídios no Seixal: Afinal por que é que um pai mata um filho?

5 Fevereiro, 2019

A menina encontrada morta, no Seixal, o homicídio da sogra e o suicídio do alegado agressor está a abalar Portugal. A Maria tentou perceber o que pode levar um pai a matar uma filha e ficámos a perceber que é mais comum do que pensamos.

É o caso que está a abalar Portugal. Pedro Henriques, de 39 anos, suspeito de ter matado a sogra, de 60 anos, e a filha, de três, no Seixal, foi encontrado morto em Castanheira de Pera. O pai terá tirado a própria vida. O homem encontrava-se em fuga desde esta terça-feira, dia 5 de fevereiro. Ainda esta manhã, Pedro ligou para o INEM a dar a localização da filha, avisando que se ia suicidar.

A menina foi encontrada sem vida perto do McDonalds de Corroios, após ter sido asfixiada. O presumível homicida terá deixado uma carta junto ao veículo, cujo conteúdo ainda não foi divulgado, e, depois, apanhado o comboio para Castanheira de Pera, onde se terá suicidado, conforme noticiou O Portal Impala.

Mas afinal o que pode levar um pai a matar um filho?

Elisabete Mechas, psicóloga clínica explica o que «incompreensível para o senso comum».

«Julgo que há estruturas de personalidade que se organizam de uma forma perturbada e que às vezes se manifestam. São estruturas frágeis em que em momentos de maior tensão, raiva acabam por não se conseguir manter estruturalmente a pensar e agem. Nesta forma de agir, de alguma forma, a destruir as pessoas à volta que lhes causam algum mal», explica a psicóloga.

«São pessoas doentes, há picos de desorganização da mente, são surtos psicóticos que as pessoas têm. São alturas em que pessoa fica incapaz de pensar, está impelida só pela ação pela agressividade», interrompe, para depois acrescentar:

«A criança estava no meio da discussão e das confusões (recorde-se que neste caso estava a ser discutida a regulação paternal), a criança não surge como uma ameaça, mas está no meio da confusão, é o objeto narcísico da pessoa. É quase como não vai ficar para ele, nem para a mãe. Já tivemos outras situações assim. Não levadas ao extremo como este caso, mas em caso de divórcio ou separação é usada mesmo para ferir o outro. É usar o filho com arma de arremesso para a mãe.»

Matar não significa que não ame

Neste caso em particular, em que Pedro Henriques se terá suicidado depois de cometer os alegados suicídios, pode «mostrar a desorganização mental da pessoa». «É quase como que o cumprir de uma tarefa, já não tem mais nada a fazer. Como se aquele ódio fosse a única coisa que lhe interessasse na vida, depois já não havia mais nada. E por isso há o suicídio. O único sentido é destruir o que sente que o destruiu. A única coisa que interessa é a raiva ao outro, a destruição», afirma Elisabete Mechas.

«Isto é incompreensível no senso comum, só conseguimos compreender em quem tem uma patologia, quem está mal com ele próprio, com os outros, não consegue encontrar nada de bom no relacionamento com os outros. Se alguém conseguisse ter descoberto antes, talvez tivesse mudado este fim», acredita.

Um pai matar um filho «não significa que não ame essa criança». «Quem ama cuida, quem ama de uma forma normal sabe cuidar e proteger, mas muita vezes esse amor é entendido como um sentimento de posse. É um amor desviado. Quando ele se reveste neste lado de posse, narcísico é mais fácil que isto aconteça. Lá está, acontece muito em separações, este é um extremo, mas acontecem gritos, discussões, às vezes não há a capacidade de proteger quem é desprotegido», sublinha.

Caso Seixal

O suspeito estava a ser procurado pela PSP e PJ, após ter alegadamente matado a sogra e raptado a filha.  O crime terá ocorrido quando o homem foi a casa da vítima, Helena Costa, entregar a filha a casa da sogra e da ex-companheira, em Cruz de Pau, no Seixal. Uma discussão à porta da habitação terá levado o suspeito a a matar a mulher com várias facadas no peito e no pescoço. A menina nunca terá saído do carro. Horas depois, a criança foi encontrada morta na bagageira do veículo do progenitor no Seixal.

Estava marcada, para esta manhã, no Tribunal de Família e Menores do Seixal, uma sessão para alterar as responsabilidades parenteais sobre a criança. O homem estava separado da mulher há já algum tempo e já tinha sido referenciado por episódios de violência doméstica, avançam fontes policiais.

Texto: Ana Lúcia Sousa

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