Nacional

Mónica Sintra discriminada: «Disseram-me que eu era demasiado gorda para estar em cima do palco»

15 Março, 2020

É uma cantora de sucesso, mas, ao longo da carreira, teve de enfrentar vários preconceitos. Já lhe disseram que estava gorda e que devia usar roupas mais sexy em palco.

Mónica Sintra esteve na Ilha Terceira, nos Açores, a convite de Flávio Furtado, que lançou um novo livro, e falou à Maria sobre o significado de ser mulher nos dias que correm.

O que significa para si ser mulher?
Acima de tudo, significa uma série de responsabilidades perante a sociedade e perante a família. A preparação para uma vida adulta é mais exigente para uma rapariga do que para um rapaz e é expectável que a sociedade pretenda mais de nós.

Sente essa responsabilidade no mundo da música?
Sim. Sinto que os homens têm maior longevidade nesta profissão, bem como nas artes em geral. As mulheres tornam-se descartáveis mais cedo e isso não tem nada a ver com o talento. Infelizmente, ainda tem a ver com a parte física.

Já sentiu essa discriminação?
Com regularidade. Mas essa pressão também é muito imposta por mim. Sei que as pessoas estão sempre à espera de um padrão de beleza em cima do palco e eu nem sempre correspondi a esse padrão. Isso foi-me dito muitas vezes.

Por quem?
Por pessoas do meio. Já foi há muito tempo e, na altura, nem havia redes sociais. Hoje em dia, isso é muito mais grave, com os comentários a que as pessoas estão expostas na Internet. As pessoas são muito levianas a criticar.

O que é que lhe disseram, na altura?
Que eu era demasiado gorda para estar em cima do palco. O que me magoou muito, claro.

Esses comentários negativos ao corpo tiveram alguma influência no facto de ter desenvolvido um distúrbio alimentar?
Esses distúrbios sempre existiram, mas claro que as críticas os acentuaram ainda mais.

VEJA AINDA:

«Não me assusta o envelhecimento»

Já lhe pediram para usar roupas mais sexy?
Sim, sim. Já tive empresários a pedirem-me para eu ir cantar de minissaia ou leggings. Não quer dizer que eu não use este tipo de roupa mais sensual, mas só o faço se me apetecer. Quem me contrata, não pode estar à espera que isso seja um requisito.

O envelhecimento assusta-a?
Não. Sou apologista de que a medicina estética tem de ser usada a nosso favor.

Além do preconceito que já sentiu por causa do corpo, já o sentiu também por ser mãe solteira?
Ser mãe solteira, por si só, não é um problema, até porque o Duarte tem grandes alicerces familiares da parte da mãe e do pai. Mas confesso que é complicado conciliar um filho, uma carreira e ainda tentar ter uma vida amorosa.

Porquê?
Porque os homens continuam a ser muito machistas. Todos dizem que gostam de mulheres independentes, mas quando a independência é muita não acham piada.

Já teve algum namorado machista?
Sim. Disse-me que eu tinha de deixar de cantar, porque chegava tarde demais a casa e porque convivia com muitos homens.

E qual foi o resultado?
A relação não durou muito.

É mãe de um rapaz. Que valores lhe quer transmitir nesta questão da igualdade de géneros?
O Duarte está a ser educado de forma a respeitar todas as pessoas da mesma forma, independente de ser homem ou mulher. Na escola tem de tratar bem toda a gente. Em casa, partilhamos tarefas domésticas.

Texto: Patrícia Correia Branco; Foto: reprodução redes sociais

Siga a Revista Maria no Instagram

partilhar | 0 | 0