Nacional

Namoro na adolescência: Como os pais devem lidar com o assunto

9 Abril, 2023

namoro na adolescência shutterstock

É na adolescência que os jovens “acordam” para o amor e vivem-no com intensidade. Os progenitores nem sempre lidam bem, mas proibir não é opção.

A adolescência é um verdadeiro desafio para os pais, assim como o namoro na adolescência. Além de verem os filhos ganharem independência e distância emocional, observam-nos, também, a vivenciar aquele que é o seu primeiro amor. “Estão no fundo a perder os seus ‘bebés’ para a idade adulta e para isto é preciso fazer um luto”, afirma a psicóloga Catarina Lucas, deixando muitos conselhos para os progenitores lidarem com os adolescentes nesta fase, na qual o sexo é a grande preocupação dos pais.

O tema sexo na adolescência

Qual é a postura que os pais devem ter quando os filhos começam a namorar?

Devem procurar o diálogo aberto e a confiança e estabelecer limites. As experiências de namoro na adolescência são normais e saudáveis. É aí que os jovens aprendem a conhecer-se na relação com o outro. Este processo leva os adolescentes a desejarem mais independência e mais distância emocional dos pais, e a focarem-se nas interações sociais, onde se desenvolvem os relacionamentos. É importante confiar nos valores transmitidos, mas impor regras e limites ao adolescente. Proibir tende a não ser uma boa opção, uma vez que só aumentará o desejo do jovem em transgredir, perdendo a confiança nos pais e ficando mais isolado.

A preocupação com as raparigas é maior?

É ainda uma inevitabilidade. Isto deve-se a vários fatores. Há um que se apresenta como um clássico, que é o risco do abuso ou da gravidez, uma questão que assombra os pais. Por outro lado, também ainda existe uma tendência em perceber as raparigas como mais indefesas, vulneráveis e ingénuas, acreditando-se que isto as deixa mais expostas ao perigo.

O sexo ainda é um bicho-de-sete-cabeças para os pais?

A sexualidade dos filhos é ainda um assunto tabu e difícil de abordar, porque de forma global a sexualidade ainda o é na população em geral. Ter de falar disto com os filhos, quando os próprios pais não se sentem confortáveis, é difícil. Além disto, é complicado para os pais aceitarem o crescimento dos filhos. Estão no fundo a perder os seus “bebés” para a idade adulta e para isto é preciso fazer um luto.

Devem falar sobre o assunto?

O diálogo é sempre a chave, sobretudo numa geração e numa época muito expostas à informação. Não conversar pode dar abertura a problemas sérios, aprendizagens erradas, crenças desfasadas ou riscos de abuso, existindo novos perigos emergentes, como o sexting, no qual muitas vezes imagens íntimas são enviadas via chat ou por outras aplicações.

E se perceberem que eles tiveram a primeira experiência sexual?

Nunca dramatizar ou repreender. É preciso adotar uma atitude empática, compreensiva e aberta para com os filhos, de modo a que possa ocorrer uma partilha genuína. Devem aproveitar para sensibilizar, mas também para explicar a importância da sexualidade, do amor e das relações afetivas. Pode acontecer ainda o jovem não querer partilhar e é importante dar-lhe espaço e deixar claro que estarão lá para quando ele quiser falar.

O perigo da Internet

Quando o/a namorado/a não tem a aprovação da família, como deve ser feita essa gestão?
Mesmo nestas situações, continua a não ser opção a proibição, pois é provável que o namoro continue às escondidas e aí os pais perdem o controlo da situação. É preciso estar atento e continuar a manter aberto o caminho do diálogo, para que seja possível, em conjunto, refletir sobre certos comportamentos ocorridos na relação.

A violência no namoro continua a aumentar entre os jovens. O que devem fazer os pais?

Sim, é verdade, os números são assustadores, sobretudo numa geração com acesso a muita informação. Contudo, as novas formas de relacionamento através do online também abrem portas a outras formas de violência. O foco deverá ser: ajudar o jovem a identificar relações violentas e abusivas e perceber se está ou não numa. A violência pode ser física, emocional, sexual, verbal e financeira. Muitos jovens consideram normal alguns comportamentos agressivos, o que dificulta a identificação. Os pais devem estar atentos a alterações de comportamento, instabilidade emocional, isolamento, evitamento e, claro, devem tentar abordar e consciencializar o jovem.

E como devem gerir as relações dos menores na Internet?

As relações construídas na Internet revestem-se de grandes perigos, mesmo estando o adolescente junto dos pais, e são também mais difíceis de controlar. Os perigos passam pelas relações com pessoas que os jovens não conhecem e a partilha de informação pessoal e privada com esses mesmos desconhecidos. O sexting e a partilha de fotos íntimas também são um risco a que os pais devem estar atentos. Consultar o telemóvel do adolescente às escondidas não é uma boa ideia, pois poderá quebrar a confiança do jovem, afastando-o. O melhor caminho é mesmo confiar e sensibilizar.

Como deve ser feita a gestão da liberdade?

O equilíbrio entre o afeto e a necessidade de impor limite tem sido um desafio na parentalidade moderna. A capacidade de nos frustrarmos é essencial para lidar com a adversidade que é a vida. Os pais devem dar liberdade e autonomia aos jovens dentro dos limites acordados, pois o incumprimento de regras pressupõe consequências. É isso que se deve tornar uma aprendizagem para a vida.

Violência e amor não coexistem

Segundo Catarina Lucas, é importante entender que a violência não tem género. “Fala-se muito da violência contra raparigas e mulheres, mas a violência contra rapazes também é expressiva, sobretudo a psicológica e emocional. É importante que os nossos jovens percebam que a violência e o amor não coexistem.”

4 dicas para os progenitores

Terem um diálogo cuidado e aberto e confiança na educação e nos valores transmitidos;
Imporem regras e limites que não excedam a liberdade que devem dar aos filhos;
Serem empáticos e compreensivos, pois já passaram pelas mesmas fases;
Não condenarem o amor e não castigarem o jovem por estar apaixonado.

Texto: Carla S. Rodrigues; Fotos: Shutterstock

Siga a Revista Maria no Instagram

partilhar | 0 | 0