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Rui Unas como nunca o viu: «Sou um marido do caraças!»

29 Fevereiro, 2020

Rui Unas explica como as cenas de violência doméstica o afetaram, conta como se apaixonou à primeira vista pela mulher durante um trabalho no Panamá, admite ser um homem romântico, revela como é como pai e assume ser um homem vaidoso.

Rui Unas dispensa apresentações. É um ator de mão cheia e um comunicador ímpar. Aos 46 anos, faz uma das personagens da sua vida na novela Nazaré, da SIC, com o Heitor. Sem tabus, Rui Unas explica como as cenas de violência doméstica o afetaram, conta como se apaixonou à primeira vista pela mulher durante um trabalho no Panamá, admite ser um homem romântico, revela como é como pai e assume ser um homem vaidoso.

Rui Unas, como nunca o viu e, finalmente, como sempre quis, na Revista Maria: «É um marco na minha vida».

O que sente quando olha para as imagens onde agride e viola Sofia (Bárbara Norton de Matos)?
Não gosto de ver. Depois de ter feito estas cenas e outras de violência doméstica tive umas semanas sem conseguir ver a novela com receio que essas cenas passassem. Hoje já via com mais faclidade porque já me desliguei emocionalmente da novela. É o resultado da nossa entrega às cenas ao ponto de quer eu quer e Bárbara ficarmos afetados.

Em que medida o afetou?
Obviamente eu não sou assim,  eu tive que resgatar sentimentos e emoções que felizmente não tenho no meu dia a dia. Estão guardados numa gaveta. Todos nós temos a capacidade de ser muito violentos.

Acredita nisso?
Não tenho dúvidas nenhumas. Eu sou capaz de matar, todas as pessoas são capazes de matar e do pior quando postos em situações limite. Tenho dois filhos e sou capaz de fazer tudo por eles. Mas há pessoas que têm essas emoções, que não estão nem em caixas, nem em em gavetas, e saem com muita facilidade. O Heitor é assim. É uma forma dele imprimir o seu poder. Eu não gosto de sentir aquilo, mas como ator eu tenho de estar disponivel para sentir aquilo. E como ator sinto-me satisfeito em conseguir ter técnicas para mostrar isso. Como ator nunca tinha feito uma personagem tão intensa e agressiva.

O Heitor levou-o ao limite?
Levou-me a zonas que nunca tinha estado enquanto Rui Unas. Levou-me a estados emocionais muito alterados que eu não me lembro de ter estado.

 Depois de ter feito o Heitor olha para os homens que cometem violência doméstica de outra forma?
Não quero ser mal interpretado e nada desculpa nem justifica a violência. Não tenho dúvidas que o Heitor ama a sua mulher, ama é de uma forma doentia e perversa e muito incorreta. O Heitores da vida precisam de tratamento, têem de perceber que o amor não pode ser violência, maus tratos, domínio, há ali um problema psicológico gravissimo que depois descamba num crime. As pessoas que fazem isto são criminosos e doentes.

Revolta-o ainda haver muitos casos de violência doméstica?
Sim. Acredito que quem tenha filhas se sinta eainda mais perturbado com isto. Porque à partida, com todo o respeito, as mulheres são mais frágeis. Eu tenho dois filhos, sempre os eduquei seguindo o exemplo. O respeito e a comunicação é um exemplo que podem replicar. Tenho a certeza que os meus dois filhos não vão ser violentos, pelo exemplo, que nós  damos em casa.

Medo da reação dos filhos à novela

Os seus filhos, Rafael (13 anos) e André (9 anos), vêm a novela?
Sim. Tento sempre evitar que eles vejam as cenas mais violentas, se bem que volta e meia vêm na casa da avó. Eles estão devidamente brifados e sabem que aquilo é o pai fazer de… que não é verdade. Aproveito para fazer um bocadinho de pedagogia. Eles não me dizem nada, penso que não têm bem perceção do que está ali a acontecer, riem-se mas acho que é de nervoso…  claro que aquilo está lá e fica impresso na mente deles, por isso é importante fazer um acompanhamento.

Teve medo da reação deles?
Tive. Pensámos se podiam ver ou não. Decidimos que sim, mas com muito cuidado, porque se a mim me custa ver, imagino a eles. Mesmo sabendo que é ficção, não deixa de ser uma imagem do pai a bater, a gritar…

E a sua mulher?
Ela sabe perfeitamente que não sou aquilo, que aquele é um trabalho como outro qualquer. Com ela não me preocupei, ela sabe que não sou o Heitor senão não estavamos casados há tanto tempo.

Ela acompanha sempre o seu trabalho?
Não é a minha maior fã, nem tem de ser, não casei com uma fã, casei com uma mulher que tem os seus gostos, obviamente que respeita, acompanha mas não anda com um cartaz.

História de amor no Panamá

Como conheceu a Hannah?
Conheci a minha mulher num trabalho que fui ao Panamá, com o programa Curto Circuito (SIC Radical). Ela fazia um programa parecido. Estávamos a cobrir um festival da juventudo que foi o Panamá que acolheu, quando a fazer a reportagem olhamos um para o outro. Houve uma química, trocámos emails, não havia redes sociais na altura. Regressei a Portugal e continuamos a falar. Eu disse que tinha de ir conhecer melhor o Panamá, ela disse que sim, voltei lá mas queria era conhecer melhor a minha mulher (risos).

Voltou passado quanto tempo?
Uns meses. De facto houve ali um romance, mas longe de mim pensar que ela iria ser minha mulher e mãe dos meus filhos. Parece que estava presdestinado. Eu cheguei a ir lá mais uma vez, ela veio cá também…

Era um namoro à distância?
Era um namoro não muito assumido. Vamos ser honestos, isto tinha tudo para correr mal, estávamos a milhares de quilómetros de distância. Mas parece que os astros estavam todos alinhados para que isso no fundo acontecesse. Das duas uma ou ficávamos por ali ou dávamos uma oportunidade ao amor. E disse-lhe ‘vens cá e vamos ver no que dá’. Deu num casamento de 17 anos com dois filhos.

Porquê vir ela e não o Rui ir para o Panamá?
Conversámos sobre o que seria melhor e decidimos que eu tinha mais condições para a receber aqui do que o contrário. Ela veio passados dois anos desde que a conheci.

Foi amor à primeira vista?
Foi. Soube mais tarde que ela também reparou em mim. Eu no primeiro dia que cheguei reparei. Lembro-me de ter pensado: ‘Aquilo é que era para mim’. Quando digo que os astros estavam alinhados é porque eu não fiz muito por isso, aconteceu nós nos cruzarmos. As grandes histórias de amor são assim, os acasos. Ela não falava português, mas rapidamanete aprendeu. O meu espanhol foi suficientemente bom para a conquistar. Passado pouco tempo já falava muito bem português.

«Sou um marido do caraças»

Como é o Rui como marido?
Sou um marido do caraças. Sou diferente do que era há 5, 10 e 15 anos. O segredo é o casal ir-se adapantando às transformações de cada um. Não é o casamento que torna as pessoas felizes, são as pessoas que tornam o casamento feliz, as duas pessoas têm de estar bem, respeitar o espaço. Hoje sou um melhor marido do que era, assim como sou melhor pessoa e espero vir-me a tornar ainda melhor.

É um homem romântico?
Assumo que sou um homem romântico. Há algo que não podemos perder que é o querer namorar. Passados 18 anos de relação ainda temos os nossos fins-de-semana e vamos namorar. Deixamos os filhos e vamos só os dois. Isso é importantissimo. Ela continua a ser a minha pessoa preferida, é a minha melhor amiga, faço questão de ir almoçar com ela ou jantar fora . Ter ainda estes sinais de relação e de chama é porque as coisas estão a correr bem.

As relações mais longas têm tendência para cair na rotina e a critica passa a existir mais do que o elogio. Isso acontece convosco?
Eu volta e meia mando uma mensagem à minha mulher a dizer: amo-te muito. Isto é muito importante e é algo muito simples. Mando do nada, não é preciso ter acontecido nada. Costuma dizer-se que um homem quando dá um ramos de flores é porque fez porcaria. Eu não preciso de fazer porcaria para elogiar a minha mulher e para volta e meia lhe oferecer qualquer coisa e de lhe fazer uma surpresa. A comunicação é fundamental e comunicar as coisas boas, não só a critica, mas elogiar como ‘estás muito bonita’ ou o ‘jantar está maravilhoso’.

Ou reparar que ela cortou o cabelo?
Aí continuo a ter alguma dificuldade. Mas eu sou homem. Os homens não reparam nessas coisas (risos)

«Sou um pai mais cool»

Como é como pai?
Já fui um pai muito bipolar: Era muito rigoroso, muito autoritário com regras e depois era o pai brincalhão. Queria dar o melhor dos dois mundos. Mas acho que o melhor mesmo é termos bom senso sem cair em extremismos. Claro que sim educar, ter regras, mas não de uma forma muito austera e castradora. Não há pais perfeitos e nem os filhos são todos os iguais. Errar é perfeitamente normal, o que nós temos de fazer é um auto policiamento. Hoje sou um pai muito mais cool, mas sem deixar de ser disciplinador e corrigir.

Vai buscar a educação que recebeu dos seus pais?
Vamos sempre, mesmo que inconscientemente. Eu dou por mim a repetir palavra por palavra o que a minha mãe me dizia quando era criança. Tento não cair na mesma dinâmica que a  minha mãe me educou na forma como se castiga, por exemplo. Se calhar os gritos não resolvem tudo, não estou a dizer que levava muita palmada.

Fala-se muito que não se deve bater nos filhos…
Acho que há o bater e o bater. A ideia não é magoar, é provocar aquele sustozinho e a repreensão que implica um toque. Bater para provocar dor é repreensível. Uma coisa é uma chapada na cara que é vergonhoso ainda por cima se for em público, é humilhante. Outra coisa é um apertozinho na altura certa para ele perceber que não está a fazer bem. Na escola levei reguadas e hoje era inadmissível para mim saber que o meu filho levou reguadas.

O Rui era bem comportado?
Não era sossegado não, fazia disparates como todas as crianças devem fazer. Quem não as fizer é uma criança que está excessivamente controlada. Repreendemos as crianças por mentirem, mas nós mentimos todos os dias. Claro que há graus de mentira, atenção. Uma criança que não teste os limites não está a crescer bem. Não que me sinta orgulhoso dos meus filhos mentirem, e repreendo-os, mas é sinal que estão a crescer bem. Fazia os disparates pela calada e tenho orgulho disso.

Assume crise dos 40

O ator sempre gostou de se cuidar e a saúde sempre foi uma preocupação. «Sempre me preocupei com a saúde e bem estar fisico. Desde os 11 anos que faço desporto. Não sei se foi  a crise dos 40 anos que assumo com muita naturalidade, mas passei a ter um cuidado maior na minha aparência e a ter mais alguma noção de estilo que era uma coisa que eu não tinha. A minha mulher dizia-me: Agora tens 40 anos, tens de te vestir como um senhor». brinca. Rui explica ainda o que mudou aos 40 anos. «Tomei algumas decisões de não me chatear com coisas futeis e sinto-me grato pelo que já fiz, pelo que está a acontecer e não tenho medo do futuro», diz.

Sou um homem vaidoso

Rui Unas assume ser um homem vaidoso, mas sem ser nascisista. «Sim, sou. Acho que a vaidade é um dos pecados capitais que devemos ter em doses certas. Ter vaidade é autoestima, não há nada de vergonhoso em ser vaidoso. Não gosto particularmente do que vejo ao espelho, não é a esse nivel. Não chego a ser narcisista. O importante para mim é não passar vergonhas, e acho que não passo», afirma.

Projeto preferido

Rui Unas é um artista e é conhecido pela sua versatilidade. Mas é no seu projeto pessoal que se sente melhor. «Onde eu me sinto realmente realizado é no Maluco Beleza. Pode não ser a coisa mais rentável, porque não é, não é aqui que ganho dinheiro, mas é aqui que sou o Rui. Eu gosto de comunicar, falar com pessoas e aqui eu faço isso. Tudo o resto dá-me muito prazer, gosto muito de representar, mas não é onde me sinto em casa», diz.

«É um marco na minha carreira»

Rui Unas tanto brincou que conseguiu. O ator sempre disse que queria fazer capa da Revista Maria e explica agora o porquê. «Tenho a Maria no meu imaginário porque é a revista preferida da minha mãe e ainda hoje lá está em casa. Sempre que vou à casa da minha mãe a revista está em cima da mesa de centro na sala. Se estava lá, eu li muitas vezes a Maria e o consultório sentimental. Percebo porque é que as pessoas gostam de ler, porque é uma revista muito diversificada, apesar ser pequena é muito rica», explica, para acrescentar: «É meritório vocês se terem adaptado aos tempos modernos, porque há muita concorrência. Não deixa de ser um marco da minha carreira, ser capa da revista Maria. Disse isso porque é a revista que eu associo muito à casa da minha mãe. Passados 24 anos de carreira em televisão fui finalmente capa da revista Maria.»

Texto: Ana Lúcia Sousa; Fotos: Nuno Moreira

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