É um dos momentos mais felizes das nossas vidas e (quase) todas as mulheres sonham vestir-se de branco para dizer o grande «sim» numa cerimónia que se quer bonita e feliz. Mas será que todos os noivos estão em sintonia? Será que o «até que a morte os separe» ainda é mesmo assim? Ou será que os noivos querem apenas casar para reunir os amigos e a família para uma grande festa? Como todas sabemos, há menos casamentos e mais divórcios do que antigamente.
A verdade é que há sinais que os noivos deixam logo no dia da própria festa sem dar conta. Mas quem os observa o dia todo percebe que algo não vai correr bem. Os fotógrafos de casamento, habituados a acompanhar os noivos de manhã à noite, são os primeiros a perceber se determinado casal terá uma vida longa junto. Claro, nem sempre é linear, como em tudo na vida. A Maria falou com dois profissionais que nos contam alguns pormenores que vão de encontro ao que estamos a falar.
«Nota-se, sim. Como fazemos a narrativa do dia, começamos logo de manhã e vamos ouvindo conversas tanto do noivo como da noiva, dos pais… e essas conversas são reveladoras. Já senti noivos que continuam solteiros, sem dúvida, e percebi, mais tarde, que se separaram. Há pequenas coisas em que se percebe», conta Gonçalo Borges Dias, da I Do Photojournalism, Lisboa. «Nós fazemos fotografias diferentes das tradicionais, fazemos a reportagem do casamento sem alterar nada do que se está a passar e já apanhei casais a discutir ou a noiva a discutir com a mãe, ou a noiva a chorar, o noivo que bebeu demais, ou durante a dança ele fez uma palhaçada que chateou a noiva… Isso não vou fotografar porque importa ter imagens bonitas. Mas acontece”, revela Gonçalo.
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«As fotos têm de ser sempre bonitas»
Luís Vassalo, da FSutdio, em Tomar, afina pelo mesmo diapasão e conta, também ele, como é fácil perceber quando a cumplicidade de casal é pouca. «Nota-se tudo em pormenores. Se andam de mãos dadas normalmente sem nós dizermos, como se falam ou falam um do outro», interrompe, para acrescentar de seguida. «Nós gostamos de saber a história dos noivos e aí também percebemos muita coisa, até na maneira de contar, dos risos a relembrar certa situação», relata o fotógrafo, que se dedica à arte há cerca de 20 anos.
Luís sabe bem do que fala, até porque, muitas vezes, além de fotógrafo é também produtor e torna as imagens mais românticas. «As fotos têm de ficar sempre bonitas. Quando não se nota essa tal naturalidade, é mais difícil de fotografar, mas temos de direcionar para criar essa sensação de proximidade», explica, dando um exemplo: «Temos que dizer para olhar para o ombro dela e ela o mesmo. Vinte por cento são naturais, 80 nem por isso. Mas também não nos podemos esquecer que estamos a fotografar pessoas normais e não modelos.»
O corte do bolo
Mas há mais pormenores que, se pensarmos, até os convidados percebem. «Há noivos desligados, que fazem palhaçada e a noiva não gosta, que estão mais com os amigos. Já se sabe que nestes dias estão muito ligados às pessoas e não tanto um ao outro, mas desligam por completo…», conta Gonçalo Borges Dias.
Luís Vassalo dá o exemplo de um casal que reagiu de forma caricata num dos momentos altos da festa. «No corte do bolo também se nota. Nesse momento, o noivo beija a noiva. Mas este noivo deu um beijo tão rápido que nem consegui apanhar. Tive que pedir para beijar novamente e ele respondeu: ‘Outro?’», ri-se ao recordar.
Luís Vassalo resume: «O que se nota, sim, é o carinho que existe, ou não, um pelo outro. Isso vê-se e sente-se nas pequenas coisas, nos olhares, nos mimos, nas mãos dadas… Quando não se nota, nós direcionamos.» Algo comum a alguns fotógrafos de casamento é que verificam que algumas noivas ficam muito mais apaixonadas pela ideia do casamento e da festa do que pela pessoa com quem se vão casar. Criam uma história de princesa e fantasiam com o dia mais feliz das suas vidas.
Empenham-se no vestido, nos adereços, na decoração e nas jóias para que tudo seja perfeito. A interação entre os noivos é muito reveladora da relação que existe e que vai existir nos próximos tempos. «Mas atenção, nesse dia é tudo fantástico, o que se nota é só em pequenas coisas. Estão ambos para se divertirem e aproveitarem ao máximo», termina Gonçalo.
Zangas POR CANSAÇO
O dia do casamento é bonito, mas longo. E se há muito casais que transpiram felicidade o tempo todo, é normal que, ao fim do dia, o cansaço tome conta dos dois e possa tirar o sorriso da cara. «O dia é muito cansativo para os noivos, estão sempre em alerta, a conversar, e é natural que ao fim do dia possa existir algum stress, mas isso não pode ser confundido com sinal de que a relação não vai durar. É normal», frisa Gonçalo Borges Dias. O melhor mesmo é desfrutar do seu dia e deixar que tudo surja naturalmente.
SINAIS FELIZES
Mas atenção. Os fotógrafos não detetam apenas sinais negativos e, por vezes, acabam por se envolver na felicidade de um casal. “Os dias em si são festas incríveis. As noivas são as rainhas do casamento. Já me comovi, acima de tudo, pelas palavras que foram ditas. Por exemplo, quando os noivos se estão a vestir, é engraçado ver as mensagens que trocam, a perguntar se já estão prontos, ver o misto de ansiedade e a saudade, os risos quando recebem a resposta por mensagem”, sublinha Gonçalo Borges Dias.
Texto: Ana Lúcia Sousa
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