Saúde e Bem-Estar

A depressão atinge sobretudo as mulheres! Saiba tudo sobre esta doença

11 Abril, 2022

Depressão Depressão

A probabilidade de uma mulher sofrer de depressão é duas a três vezes maior do que em homens. Ajudamos a explicar a ocorrência deste transtorno.

De acordo com a Organização Mundial da Saúde, a depressão é um dos principais problemas de saúde no mundo desenvolvido, pelo que se estima que esta perturbação mental afete mais de 300 milhões de pessoas a nível global. No entanto, é na mulher que se verifica uma maior prevalência da mesma: em Portugal, as estimativas apontam para valores de 2 a 3% para os homens versus 5 a 9% para as mulheres, para as formas mais graves de depressão. A Maria falou com Ana Ramos, médica psiquiatra, para procurar entender esta realidade.

Por que razão o sexo feminino sofre mais de depressão do que os homens?

-Esta disparidade pode estar relacionada com o facto de os homens se queixarem menos dos sintomas depressivos, mesmo quando já estão presentes, porque existe o estigma de que a depressão é um sinal de fraqueza. Também do ponto de vista biológico, as alterações hormonais inerentes ao ciclo menstrual contribuem para a maior vulnerabilidade da mulher. Outras situações que aumentam a incidência da depressão são o uso de anticoncecionais orais (a pílula), a gravidez, o parto e o puerpério.

Já os fatores sociais e económicos incluem o aumento de pressão social para que a mulher tenha sucesso profissional, mas continue a ser a principal responsável pelos papéis e tarefas tradicionais – fazer refeições para a família, cuidar da casa e das crianças, apoio aos pais, etc. Esta pressão intensa pode gerar sentimentos de culpa e perda da autoconfiança, especialmente quando os projetos de vida não correm como era esperado.

A pressão da imagem corporal também contribui para esta situação?

-Quando a pessoa não está satisfeita com a sua imagem corporal ou não aceita a sua imagem, o risco para sofrer de depressão aumenta. A mulher que já tenha alguma vulnerabilidade para a depressão está em maior risco, pois tem menos resistência ou resiliência a este tipo de pressão.

Adolescência e velhice

Na passagem para a menopausa, muitas mulheres queixam-se que, de repente, caem numa tristeza incontrolável e apresentam forte instabilidade emocional…

-São outra vez as alterações hormonais a contribuir para o aparecimento da depressão e o risco aumenta ainda mais, especialmente para as mulheres que já tiveram episódios depressivos antes da menopausa. Neste período, é importante o equilíbrio entre ter tempo e oportunidade de cuidar de si própria e as obrigações de cuidar dos outros. É importante também manter o contacto com a ginecologia para acompanhar os sintomas físicos da menopausa e esclarecer todas as dúvidas sobre as alterações que vão acontecer no seu corpo.

Quais as faixas etárias que estão mais em risco?

-São o final da adolescência e a velhice. São épocas de grandes alterações do corpo, que exigem um esforço de adaptação da mulher a uma nova vivência do seu corpo. Nas mulheres idosas, uma grande causa de depressão é a solidão e o isolamento resultante da perda do cônjuge, do pouco contacto com filhos e netos e da redução dos contactos com a rede de amigos.

As mulheres são quem mais procura ajuda médica. Qual a explicação?

-A principal razão poderá estar relacionada com a maior capacidade de análise emocional que as mulheres têm. Conseguem identificar e assumir que têm sintomas de depressão e falam deles aos médicos e até amigos mais próximos. Os homens têm tendência a não identificar os sintomas e, quando o fazem, muitas vezes evitam enfrentá-los e procurar ajuda médica, tanto nos médicos de família como num psiquiatra. É mais difícil para os homens admitirem que têm sintomas depressivos e procurarem ajuda, pois isso revela uma fragilidade que entra em conflito com a imagem tradicional de masculinidade.

Ter tempo para si

-Que abordagens terapêuticas são realizadas?

O tratamento ideal da depressão, tanto para mulheres como para homens, é a combinação de antidepressivos com psicoterapia. Já existem medicamentos muito eficazes, com poucos efeitos secundários, e que já conseguem tratar sintomas que os anteriores não conseguiam. Exemplo disso é a recuperação das alterações da vida sexual (a falta de desejo sexual e não conseguir o orgasmo são os mais frequentes), acontecendo por causa da depressão ou pelo tratamento com antidepressivos mais antigos.

Que estratégias devem adotar no seu dia-a-dia para evitar cair em depressão?

-A prática de exercício físico regular é benéfica. Paralelamente, é importante que a mulher tenha algum tempo para si, para tarefas lúdicas e que lhe deem prazer. Por fim, uma alimentação equilibrada também é importante. É fundamental procurar ajuda médica o mais precocemente possível e cumprir o tratamento em conformidade com indicação do médico assistente.

Sintomas associados

As mulheres tendem a comunicar mais quando não estão bem, com manifestações como choro, demonstrando ao outro que se sentem alteradas.
Os mais frequentes são:

1. Alteração de peso;
2. Falta de memória e dificuldade em tomar e manter as suas decisões;
3. Sentimento de culpa;
4. Desinteresse e incapacidade de sentir prazer pelas suas atividades do dia-a-dia;
5. Sensação de desamparo;
6. Perda de energia;
7. Insónia ou sonolência excessiva;
8. Ansiedade e tristeza;
9. Pensamentos recorrentes de morte;
10. Dor sem razão aparente.

Os sintomas têm de estar sempre presentes, pelo menos durante 15 dias seguidos.

 

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Texto: Mário Rui Santos

 

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