Saúde e Bem-Estar

Casados à Primeira Vista: Doente com insuficiência renal pode ou não ir para o estrangeiro?

28 Novembro, 2018

Viver com Insuficiência Renal requer muitos cuidados. A propósito de Cláudio Mendes, noivo e concorrente de Casados à Primeira Vista, SIC, que sofre de insuficiência renal crónica desde 2008 e tem de fazer diálise, fomos perceber como é viver com a doença.

Cláudio e Isabel foram os únicos dos sete noivos do programa da SIC, que não tiveram uma lua-de-mel no estrangeiro, mas sim no Douro, em Portugal. Justamente por toda a logística que implicava a saída do atleta do país sem muito tempo de antecedência.

«O doente renal crónico apresenta diminuição da qualidade de vida devido à sua doença», começa por dizer Miguel Bigotte Vieira, médico no Serviço de Nefrologia e Transplantação Renal do Centro Hospitalar Universitário Lisboa Norte . «No entanto, o modo como a doença renal crónica afeta a vida dos doentes pode ser minimizado», continua.

Cuidados a ter na viagem

Mas afinal, um doente com insuficiência renal pode ou não ir de férias? Pode. «Um dos aspetos a não esquecer e a não descurar é a possibilidade de ir de férias. Apesar de a doença renal crónica não deixar de acompanhar o doente em férias, é importante que a pessoa não se deixe limitar pela mesma. De destacar que ir de férias pode significar desde visitar um lugar exótico até algo tão simples como passar uns dias em casa de familiares. O importante é não desperdiçar a possibilidade de aproveitar uns dias diferentes do modo que se considerar mais adequado», sublinha o mesmo médico.

O profissional, explica que «existem naturalmente alguns aspetos comuns a ter em consideração em todos os doentes com doença renal crónica que pretendam ir de férias».

Miguel Bigotte alerta que «na consulta antes de viajar deverá, idealmente, ser discutida com o nefrologista assistente a possibilidade de viajar, quais as precauções a ter, como vacinação, a eventual necessidade de realização de consulta do viajante e quais os cuidados a ter durante a viagem.»

O sítio da Direção-Geral de Saúde disponibiliza informações sobre os locais do país onde pode ser realizada a consulta do viajante bem como vacinação internacional.

«Durante a viagem é importante o doente ter presente quais os hospitais da área, bem como quais os Serviços de Nefrologia mais próximos. Idealmente, deverá ser portador de informação clínica resumida na qual seja especificada a listagem de problemas médicos bem como a listagem de medicação crónica», continua a explicar.

Férias no estrangeiro

Há um detalhe que nã0 pode ser esquecido. Em viagens ao estrangeiro, a informação clínica «deverá idealmente estar escrita em língua inglesa». «No doente que não tenha doença renal crónica terminal e que, portanto, não apresente necessidade de realizar uma das técnicas substitutivas renais, é importante que o facto de estar em férias não conduza ao esquecimento da toma da medicação», lembra Miguel Bigotte.

Se para qualquer pessoa a hidratação é importante, para um doença com insuficiência renal é muito «importante evitar o risco de desidratação e consequente agravamento da função renal, em particular em climas quentes ou em caso de gastrenterite».

No doente renal crónico que faça hemodiálise «é necessário agendar com antecedência a realização de hemodiálise numa clínica perto do local de destino de modo a ser avaliada a existência de vaga durante o período pretendido e a ser planeado o eventual transporte.»

Por este motivo terá sido complicado levar Cláudio e Isabel para uma lua de mel num destino turístico, como os restantes noivos do programa foram. Tailândia, Méxio, Brasil, Cabo Verde, Indonésia e Marrocos foram os destinos eleitos. Cláudio Isabel foram para o Douro.

«É compreensível a maior dificuldade em agendar tratamento nas clínicas localizadas em destinos turísticos. De destacar que existem cruzeiros no estrangeiro que têm no seu interior uma unidade de hemodiálise na qual é possível realizar os tratamentos durante o período de férias», interrompe o nefrologista.

Custos a cargo do doente

«Tipicamente os custos dos tratamentos de hemodiálise realizados em cruzeiros são totalmente suportados pelos próprios doentes, pelo que este tipo de férias poderá ser dispendioso. Os doentes que realizam diálise peritoneal automática têm a possibilidade de transportar a máquina portátil, denominada cicladora, em mala de viagem com rodas. Existe também a possibilidade de ser realizada a entrega dos sacos de solução de diálise peritoneal no local de destino», acrescenta.

Férias planeadas com antecedência

Mas há mais. «Em caso de as férias incluírem vários destinos, pode ser agendada entrega do material em vários locais. Dadas as dimensões dos sacos de diálise peritoneal, é necessária uma logística naturalmente complexa, pelo que as férias deverão ser planeadas com bastante tempo de antecedência. Dependendo do prestador de serviço de hemodiálise e do fornecedor de material de diálise peritoneal poderão existir algumas diferenças relativamente ao descrito», revela.

Não esquecer que um doente «transplantado renal» a adesão à terapêutica é de extrema importância. Por isso «é fundamental que seja calculado o número de comprimidos necessários para a duração total da viagem, de modo a que não falte medicação.»

Cuidado com os sintomas

A ocorrência de tosse, expetoração e dor torácica «sugerem infeção respiratória». Entre outros sinais que podem sugerir problemas associados à doença, e após um breve resumo dos cuidados gerais a ter, «nunca é de mais salientar o extremo cuidado a ter em todos estes aspetos de modo a aproveitar ao máximo os momentos de descanso e desfrutar dos locais visitados.»

Em jeito de conclusão «as férias do doente renal crónico constituem uma forma de minimizar o modo como a doença renal afeta a sua qualidade de vida. O doente desempenha um papel fundamental neste tema. Começando pela decisão de viajar, passando pela preparação e execução das férias e terminando, após o regresso, na reflexão sobre o que pode ser otimizado de modo a que a preparação das férias seguintes possa ter início.»

Texto: Ana Lúcia Sousa

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