Francisco Macau tornou-se conhecido do grande público em 2008, quando fez parte do elenco da série da TVI Morangos com Açúcar. Na última década, trocou a representação pelo desporto. Formou-se em Produção Alimentar em Restauração pela Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril e PT, pelo CEFAD, passou pelo culturismo (tendo mesmo chegado a competir) e criou a Team Macau, que se dedica a aconselhamento nas áreas desportiva e de nutrição.
Em exclusivo ao site da revista Maria, Francisco, com 31 anos, aceitou falar sobre o uso de esteróides anabolizantes, nos quais se inclui a testosterona, substância que Ângelo Rodrigues injetou numa nádega e que o levou à Unidade de Cuidados Intensivos, onde ainda está internado a lutar pela vida. «Sou amigo do Ângelo, mas não sei o que se passou com ele, por isso não posso falar sobre este caso específico», salvaguardou o personal trainer e empresário, afirmando ainda que o conhecimento que tem se deve ao que lê, ao que vê e ao que ouve no meio onde se movimenta.
Na prática, o que é a testosterona e para que é usada?
A testosterona é uma hormona que muitas pessoas, por opção, tomam para potenciar ganhos de massa muscular. É administrada também em doentes. Existe uma terapia hormonal que é feita e que potencia esses ganhos de massa muscular em homens e em mulheres.
Mas é administrada apenas em ambiente hospitalar?
Sim, sim. Daquilo que eu leio e daquilo que eu sei, todas estas substâncias foram criadas para serem usadas em terapia e em ambiente hospitalar. Depois, saíram desses meios e são utilizadas cá fora de forma ilegal. São uma droga, são ilegais. Usar é dopping. Mas muita gente recorre a elas para obter melhores resultados. Está provado e existem várias evidências científicas que, de facto, aumenta a percentagem de massa muscular.
É fácil arranjar testosterona fora do meio hospitalar?
Vou dizer-lhe uma coisa: estou neste meio há 12 ou 13 anos e já fui atleta de alta competição. Conheço muita gente e tenho dois olhos e dois ouvidos. Possivelmente, é mais fácil arranjar testosterona do que boleia.
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Não há qualquer controlo?
Nenhum. Infelizmente, e acho que muita gente não tem consciência disto. Pelo que percebo e vejo, o esteróide anabolizante é associado a seguranças, a pessoal que trabalha na noite ou que frequenta os ginásios de bairro. Não vou falar em nomes, mas vá aos ginásios onde se paga bem para treinar, que têm ótimas condições, e fale com um ou dois péssimos profissionais que lá estão e vai conseguir, de certeza, arranjar em menos do que nada.
Falou já do uso destas substâncias para potenciar ganhos de massa muscular. Este efeito é imediato?
Isso não sei. Sei que existem umas de rápida absorção e outras de absorção lenta. Agora, quão rápido e de que forma, não sei.
O Francisco alguma vez recorreu a essas substâncias?
Nunca!
Quando diz que tem dois olhos e dois ouvidos, quer dizer que tudo isto se passa ‘às claras’?
Dou-lhe antes um exemplo. Temos miúdos de 15 e 16 anos que andam em ginásios e que mandam mensagem para as redes sociais do Team Macau, o nosso projeto, a pedir conselhos sobre isto porque alguém no ginásio onde andam lhes falou que deviam tomar. Isto é grave e acho que, em Portugal, deveria haver abertura para falar sobre o tema e agir. Recebi no outro dia uma mensagem de um miúdo de 17 anos… 17… Isto é um crime. Quem falou com este miúdo devia ser logo preso. E falo apenas de ginásios porque é o meu meio, mas se for para a natação, para o ténis, para o futebol, para qualquer outro ambiente desportivo, vai encontrar mais do mesmo. [A venda e o uso do] Os esteróides estão em todo o lado. Aliás, sabe-se que atletas que usavam.
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Tem que ver com o culto do corpo e com o querer obter resultados depressa?
Essa é a questão essencial. Como em tudo na vida, as pessoas não estão dispostas a fazer sacrifícios. É muito mais fácil, por exemplo, perder peso a tomar substâncias, mesmo que sejam suplementos alimentares de venda livre em qualquer loja e que são extremamente perigosos para a função cardiovascular. As pessoas não querem levar uma vida saudável durante um, dois ou três anos para alcançarem objetivos que, com essas substâncias, atingem em dois meses. Esquecem-se que a pressa é sempre inimiga da perfeição. E eu lido com isto todos os dias. É uma doença.
Todos os dias?
Eu recebo centenas de mensagens por dia, mas acho que o meu público é mais consciente porque sabe o trabalho que a Team Macau desenvolve. Nós atuamos na área do desporto em ginásio e fora dele, mas também na área da nutrição. Claro que também recebemos mensagens a pedir ajuda, até de pessoas que já compraram e que querem saber como usar.
O que faz com esses casos?
As mensagens são automaticamente eliminadas.
O uso é através de injetáveis e comprimidos?
Sim. O injetável é intramuscular, ou seja, a perfuração é feita no músculo, e pode ser por via oral, por comprimidos. São ambos muito agressivos. A função hepática e renal fica comprometida. Não vá mais longe: se está a fazer uma dieta com uma determinada dose diário de proteína, tem de beber dois ou três litros de água por dia para ajudar o organismo a limpar. Mas as pessoas são preguiçosas até a fazer o bem: tomam substâncias que lhes estão a fazer mal, mas como vão obter resultados não se preocupam com fazer aquilo que poderá minimizar, de certa forma, o mal que está a fazer ao corpo.
Tem conhecimento de casos em que houve consequências graves pelo uso de esteróides anabolizantes como a testosterona?
Bem… neste mundo toda a gente se conhece. O uso prolongado deste tipo de substâncias pode trazer algumas complicações e algumas pessoas… como se costuma dizer, a fatura paga-se. Pode não correr bem… incluindo problemas cardiovasculares. É preciso entender que quando fazemos desporto estamos a promover a hipertrofia muscular e o coração é um músculo. Se as coisas não são bem feitas, algum dia pode falhar.
Texto: Ana Filipe Silveira; Fotos: reprodução redes sociais
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