Saúde e Bem-Estar

Como a covid-19 pode afetar o coração. Causas, consequências e prevenção

31 Outubro, 2020

coração

Sabia que não é preciso estar doente para sofrer problemas cardíacos causados pelo novo coronavírus? Ele pode trazer complicações em pessoas saudáveis.

Quando os especialistas em saúde começaram a analisar o novo coronavírus, acreditaram que a infeção que ele causa tinha como alvo principal os pulmões. Contudo, verificaram que 20 a 30 por cento das pessoas hospitalizadas com a doença apresentavam sinais de danos cardíacos, de acordo com um estudo publicado na Heart Rhythm.

Os pesquisadores inicialmente atribuíram isso ao facto de os pacientes estarem gravemente doentes e era natural que os seus corações também ficassem comprometidos. Mas à medida que mais pesquisas foram realizadas sobre os efeitos da covid-19 descobriu-se que não são apenas os pacientes em estado crítico que têm problemas cardíacos.

♥ O QUE CAUSA?
Um estudo publicado em setembro de 2020 na revista médica JAMA Cardiology mostra que o coronavírus pode prejudicar o tecido cardíaco, mesmo em pessoas que tiveram sintomas leves ou até nenhum sintoma. E, embora sejam necessárias provas mais evidentes, um outro estudo publicado na edição de julho da mesma revista sugere que esse dano pode ser permanente. “Este vírus infeta quase todos os órgãos do corpo e o coração não é exceção”, diz Oscar Cingolani, do Hospital Johns Hopkins, em Baltimore.

♥ QUANDO FICA INFLAMADO…
O que os cardiologistas chamam de “miocardite” – inflamação do músculo cardíaco – pode enfraquecer o coração e causar estragos no seu sistema. Isso, por sua vez, torna mais difícil para o coração bombear sangue e causa ritmos cardíacos anormais. Tal não é uma novidade, pois a miocardite pode ser causada por vírus, como o da gripe, bem como bactérias, fungos ou doenças autoimunes. O que está cada vez mais claro é que “o novo coronavírus pode infetar o coração como outras inflamações”, diz Cingolani.

“O coração também pode ser danificado pela inflamação que o corpo produz para combater a infeção”, conclui.

♥ QUAIS AS CONSEQUÊNCIAS?
A covid-19 também danifica as células endoteliais, que são as células de superfície lisa que criam uma barreira dentro dos vasos sanguíneos para o sangue fluir. “Quando essas células são infetadas, vários mecanismos de proteção ficam comprometidos”, salienta o especialista. O sangue pode coagular nas pequenas artérias, explica, e o resultado pode levar a pequenas cicatrizes e áreas de inflamação ou até mesmo a um ataque cardíaco, pois “os coágulos nas artérias dos pulmões podem privar o coração de oxigénio”, revela o médico.

Não existe nenhuma evidência de que as pessoas que tenham sofrido um acidente vascular cerebral (AVC) tenham maior risco de ter quadros graves de infeção por covid-19, excetuando os doentes que tenham ficado com sequelas desta doença, como dificuldade em engolir.  No entanto, os AVC são
mais frequentes acima dos 65 anos de idade e também em pessoas hipertensas e com maior risco de doença cardíaca, o que coincide com os conhecidos fatores de risco para uma maior gravidade de infeção por covid-19. Mesmo durante a pandemia, e apesar do estado de emergência, é muito importante manter-se atenta para possíveis sinais de AVC, por exemplo um início abrupto de sintomas como:

✔ Assimetria facial;
✔ Dificuldade em falar;
✔ Falta de força num braço e/ou perna. Perante sintomas como estes, não tenha medo, ligue imediatamente o 112 ou dirija-se rapidamente a um serviço de urgência.

RECOMENDAÇÕES PARA PESSOAS QUE SOFRERAM UM AVC

✔ Mantenha uma boa hidratação (bebendo água com regularidade) e controle a febre e as dores (com medicação prescrita pelo seu médico);

✔ Se faz anticoagulação, tenha em atenção que alguns anti-inflamatórios podem interferir com diversos anticoagulantes; em caso de dúvida, contacte o seu médico;

✔ Se tiver hipertensão arterial, faça um controlo mais frequente da tensão arterial;

✔ Os sobreviventes de AVC com dificuldade em engolir têm maior risco de vir a ter dificuldade respiratória durante a infeção por covid-19.

MEDIDAS A TOMAR POR QUEM JÁ SOFREU ESTE PROBLEMA

♦ Mantenha medidas de contenção de contactos semelhantes à restante população;
♦ Cumpra as terapêuticas em curso;
♦ Não fume e limite o consumo de álcool;
♦ Se estava a fazer um programa de reabilitação diária deve adaptar‑se às condições do confinamento, mas não desistir – há programas de reabilitação à distância ou, pelo menos, mantenha uma rotina de exercícios adaptados em sua casa.

OUTRAS COMPLICAÇÕES

Miocardiopatia de stress (síndrome do coração partido)

É semelhante ao ataque cardíaco, mas a causa é diferente. Neste caso, os especialistas acreditam que é fruto de uma fraqueza temporária do músculo cardíaco, devido a um aumento das hormonas do stress. Apesar de o novo coronavírus poder causar certas complicações cardíacas, neste caso a síndrome não é um reflexo do vírus, mas sim do stress causado pela pandemia. Um estudo publicado em julho na Jama Network Open descobriu que a incidência de miocardiopatia por stress quase triplicou durante a pandemia.

Ataque cardíaco

A covid-19 aumenta a possibilidade de ter o que é conhecido como enfarte do miocárdio (ataque cardíaco) em pacientes com fatores de risco cardiovascular.

Arritmias

Batimentos cardíacos irregulares são benignos na maioria das vezes, mas podem ser graves para
quem contrai o vírus.

Leia ainda: Cancro da mama em tempos de COVID-19! As respostas a todas as dúvidas
Texto: Mário Rui Santos

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